Aplicações da Supercondutividade - O skate voador da Lexus

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Filmes finos exibem supercondutividade de alta temperatura (Thin Films Become Superconductive At Higher Temperatures)



 
Este filme fino à base de ferro conduz eletricidade a 35 °C acima do zero absoluto, sem a necessidade de dopagem.


 
Pesquisadores no Japão descobriram uma transição para o estado supercondutor em um filme fino de ferro e selênio a uma temperatura muito acima do zero absoluto, um potencial ganho para o campo da supercondutividade.
       Eles também conseguiram desvendar o mecanismo pelo qual isto ocorre: a acumulação de elétrons em uma densidade extremamente elevada sobre a superfície da película. A alta temperatura no qual a transição ocorre, -238 °C ou 35 °C acima do zero absoluto, amplia a gama de possíveis experiências e das aplicações em supercondutividade.
       Além disso, os pesquisadores mostraram que o filme de seleneto de ferro de aproximadamente dez nanômetros de espessura exibe uma temperatura de transição de 35 K, quatro vezes maior que a temperatura para o mesmo tipo de película com uma espessura de 110 nm.
       “Nós usamos um transistor de camada dupla com uma tensão de 5,5 V aplicados em filmes finos epitaxiais de FeSe para induzir o estado supercondutor”, disse Hidenori Hiramatsu, co-autor da pesquisa.
       “Descobrimos que os elétrons tinham se acumulado a um nível muito elevado no canal FeSe, o que causou a transição de alta temperatura para a supercondutividade. O fato de filmes finos de FeSe mudarem de isolante para supercondutor a 35 K significa que podemos examinar a indução de supercondução sem ter que realizar a dopagem com impurezas, que podem degradar a estrutura do material e os portadores de carga”, afirma o principal autor do estudo, Kota Hanzawa.
       “Nós agora devemos ser capazes de determinar a mais alta temperatura absoluta em que a transição para a supercondutividade pode ocorrer. Isso pode beneficiar pesquisas e aplicações em todo o nosso campo”.





quarta-feira, 20 de abril de 2016

Está pronto o primeiro magneto do futuro do LHC




Redação do Site Inovação Tecnológica -  15/04/2016


Foram 10 anos do projeto à construção deste eletroímã supercondutor de 1,5 metro. Agora será necessário construir uma versão muito maior. [Imagem: G. Ambrosio/P. Ferracin/E. Todesco]



LHC do futuro

       Se você acha que o LHC, o maior acelerador de partículas e o maior experimento científico da história contém o supra-sumo da tecnologia, você está certo.
       Mas também é necessário saber que os físicos e engenheiros do CERN acabam de terminar o protótipo de uma das peças fundamentais para o “LHC do futuro”.
       A proposta é que dezenas de magnetos supercondutores similares a este protótipo sejam instalados em uma atualização radical da tecnologia do LHC, em 2026, que deverá aumentar a luminosidade do acelerador de partículas em 10 vezes.
       Construído por uma equipe internacional, o eletroímã supercondutor, chamado “Quadrupolo MQXF1”, mede apenas 1,5 metro de comprimento, mas sua versão final deverá substituir 5% dos ímãs responsáveis pela focalização e direção dos feixes de partículas quando o LHC se transformar no “LHC de Alta Luminosidade”, ou HL-LHC (High-Luminosity Large Hadron Collider).


Supercondutor de nióbio

       Os ímãs do atual LHC são feitos de uma liga de nióbio e titânio (NbTi), um supercondutor que pode operar dentro de um campo magnético de até 10 teslas antes de perder a sua supercondutividade. Este novo ímã é feito de nióbio e estanho (Nb3Sn), um supercondutor capaz de transportar corrente sem resistência através de um campo magnético de até 20 teslas.
       Mas o ganho também tem seus custos. O Nb3Sn precisa ser recozido a 650º C para que sua estrutura seja alterada e ele se torne um supercondutor. O problema é que isso também o torna tão quebradiço quanto uma cerâmica.



Detalhe do magneto, onde se podem ver as bobinas supercondutoras. [Imagem: Reidar Hahn/Fermilab]



       Assim, construir um ímã desse tamanho usando um material mais frágil do que uma xícara de chá não é uma tarefa fácil. Os físicos e engenheiros gastaram 10 anos projetando e aperfeiçoando um processo que finalmente permitiu formatar, recozer e estabilizar as bobinas.
       “Nós estamos lidando com uma nova tecnologia que pode ir muito além do que era possível quando o LHC foi construído. Esta nova tecnologia magnética irá tornar possível o projeto do HL-LHC,” disse Giorgio Apollinari, membro da equipe.
       Agora a equipe vai usar seu novo processo produtivo para fabricar ímãs cada vez maiores, até atingir a escala necessária para seu uso no LHC, cujos magnetos supercondutores medem 14,3 metros.




sexta-feira, 4 de março de 2016

Será que a NSA finalmente construiu seu computador espião? (Will the NSA Finally Build Its Superconducting Spy Computer?)




Hoje, microchips de silício estão presentes em todos os aspectos da computação digital. Mas seu domínio nunca foi uma conclusão óbvia. Ao longo da década de 1950, engenheiros elétricos e outros pesquisadores exploraram muitas alternativas para construir os computadores digitais.
Uma delas instigou a imaginação da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA: um supercomputador supercondutor. Tal máquina poderia tirar proveito dos materiais supercondutores que ao serem refrigerados não exibem qualquer resistência elétrica. Essa propriedade extraordinária traz a promessa de computadores que poderiam processar números e códigos mais rápidos do que os sistemas baseados em transistores e consumiria muito menos energia.
     Por seis décadas, a partir de meados de 1950 até hoje, a NSA tem repetidamente perseguido esse sonho, em parceria com pesquisadores industriais e acadêmicos. A agência patrocinou projetos significativos para construir um computador supercondutor. Porém, o esforço foi abandonado em face do ritmo acelerado da Lei de Moore e o aumento surpreendente no desempenho e redução no custo de microchips de silício.
     Agora a Lei de Moore está balbuciando, e os fabricantes de supercomputadores do mundo todo estão enfrentando uma crise energética. Simuladores de armas nucleares, criptógrafos e outros, almejam os supercomputadores em exoescala capazes de rodar 1.000 petaflops - 1 milhão de trilhões de operações de ponto flutuante por segundo - ou mais. O supercomputador mais rápido do mundo está na China e possui capacidade de 34 petaflops e consome cerca de 18 megawatts de energia. Isso é aproximadamente a quantidade de eletricidade usada instantaneamente por 14.000 famílias dos EUA. Projeções variam dependendo do tipo de arquitetura do computador usado, mas uma máquina em exoescala construída com os melhores microchips de silício de hoje, podem requerer centenas de megawatts.
     A busca pela exoescala pode levar ao computador supercondutor. E a IARPA (Intelligence AdvancedResearch Projects Activity), está fazendo o máximo que pode. Com novas formas de lógica e memória supercondutora em desenvolvimento, a IARPA lançou um programa ambicioso para criar as peças fundamentais de um supercomputador supercondutor. Nos próximos anos, o esforço pode mostrar se a tecnologia realmente irá bater o silício.
     O sonho da NSA foi inspirado pelo engenheiro elétrico Dudley Buck. Quando se mudou para o MIT em 1950, Buck permaneceu como um consultor militar, mantendo a Agência de Segurança das Forças Armadas, que rapidamente se tornou a NSA, a par dos novos desenvolvimentos de computação em Cambridge.


Na década de 1950, Dudley Buck imaginou computadores rápidos e eficientes em termos energéticos. Estes o levaram ao seu comutador supercondutor, o criotron.


     Buck logo relatou em seu próprio trabalho uma nova chave supercondutora, ele batizou de criotron. O dispositivo funciona por comutação de um material entre o seu estado normal e o estado supercondutor. Certo número de elementos metálicos supercondutores e ligas chegam a esse estado quando são resfriados abaixo de uma temperatura crítica próxima do zero absoluto. Uma vez que o material se torna supercondutor, um campo magnético suficientemente forte pode trazer o material de volta ao seu estado normal.
     Neste processo, Buck viu um disjuntor digital. Ele enrolou um minúsculo fio "controle" em torno de um fio "porta", e mergulhou o par em hélio líquido. Quando a corrente fluiu através do controle, o campo magnético criou uma porta em seu estado de resistência normal. Quando a corrente de controle foi desligada, a porta tornou-se supercondutora novamente.
     Buck pensou que os criotrons poderiam ser usados para moldar computadores rápidos e energeticamente eficientes. A NSA financiou o seu trabalho em circuitos de memória criotron, bem como um projeto mais amplo sobre circuitos criotron digitais da IBM.
     Engenheiros continuaram o desenvolvimento dos circuitos criotrons na década de 1960, apesar da morte súbita e prematura de Buck em 1959. Mas as baixíssimas temperaturas do hélio líquido e o tempo necessário para os materiais transitarem entre os estados supercondutor-normal limitaram as velocidades de chaveamento. A NSA, eventualmente, cessou o financiamento, e muitos pesquisadores trocaram a eletrônica supercondutora pela do silício.
     Em 1962, o físico britânico Brian Josephson fez uma previsão sobre o tunelamento quântico em supercondutores. No tunelamento, os elétrons passam através de uma barreira isolante, promovidos por um impulso de tensão; o fluxo de elétrons ocorre com alguma resistência. Mas Josephson previu que se a barreira isolante entre dois supercondutores é fina o suficiente, uma supercorrente de elétrons pode fluir por ela sem resistência, como se a barreira não estivesse lá. Isso ficou conhecido como o efeito Josephson, e uma chave baseada no efeito foi obtida.
     Pesquisadores da IBM desenvolveram uma versão dessa opção em meados da década de 1960. A parte ativa do dispositivo era uma linha de supercondutores metálicos, separados por uma fina camada de óxido. A supercorrente tunelava através da barreira, mas só até certo ponto; se a corrente atingisse um dado valor, o dispositivo passava ao estado normal. O limite era ajustado por um campo magnético gerado pelo fluxo de corrente em uma linha de controle supercondutora vizinha. Se o dispositivo operasse perto do limite da corrente, uma pequena corrente no controle poderia mudar o limite. Ao contrário do criotron de Buck, os materiais deste dispositivo sempre se mantinham supercondutores, tornando a chave eletrônica muito mais rápida.
     Em 1973 a IBM estava trabalhando na construção de um supercomputador supercondutor baseado em junções Josephson. A unidade básica de seus circuitos foi um loop supercondutor com junções Josephson, conhecido como ‘dispositivo supercondutor de interferência quântica’, ou SQUID. A NSA cobria uma fração substancial dos custos.


Corrente em um loop supercondutor contendo uma junção Josephson, uma barreira não supercondutora gera um campo magnético com um pequeno valor, quantificado.


O programa do supercomputador supercondutor da IBM funcionou por mais de 10 anos, a um custo de cerca de US$ 250 milhões de dólares. As junções Josephson são principalmente feitas de liga de chumbo e óxido de chumbo. No final do projeto, os engenheiros ligaram a uma barreira de óxido de nióbio, imprensado entre uma liga de chumbo e uma película de nióbio, um arranjo que produziu dispositivos mais confiáveis. Mas enquanto o projeto fazia grandes progressos, os executivos da empresa não estavam convencidos de que um eventual supercomputador baseado na tecnologia poderia competir com os microchips avançados de silício. Em 1983, a IBM encerrou o programa sem nunca ter construído um computador baseado nas junções Josephson.



Image: IBM. Circuitos Josephson de 1970.


     Inspirado no projeto da IBM, o ministério industrial do Japão lançou um esforço do computador supercondutor em 1981. A parceria da pesquisa durou oito anos e produziu um verdadeiro computador que funcionava com junções Josephson. Era uma máquina pequena, de 4 bits, com apenas 1000 bits de RAM, mas poderia até rodar um programa. Porém, o projeto também foi abandonado na mesma perspectiva da IBM.



Foto: AIST. Um computador completo: O ETL-JC1, um computador supercondutor desenvolvido no Japão, incluía quatro chips de circuitos integrados baseados em junções Josephson, para a lógica e para a memória.



     Novos desenvolvimentos surgiram fora destes programas. Em 1983, pesquisadores da Bell Telephone Laboratories construíram junções Josephson de nióbio separadas por finas camadas de óxido de alumínio. Os novos comutadores supercondutores eram extraordinariamente seguros e podiam ser fabricados utilizando um processo simplificado da mesma maneira que os microchips de silício.
     Em 1985, pesquisadores da Universidade Estadual de Moscou propuseram um novo tipo de lógica supercondutora. Originalmente apelidado de resistiva, então renomeada lógica "rápida" de um único fluxo quântico, ou RSFQ (“rapid” single-flux-quantum logic), tirou proveito do fato de que uma junção Josephson pode emitir minúsculos pulsos de tensão. Integrado ao longo do tempo, eles assumem valores quantizados, múltiplos inteiros de um valor minúsculo chamado de fluxo quântico, medido em microvolts.



Imagem: Hypres. Fluxo magnético ejetado de um circuito supercondutor através de uma junção Josephson pode assumir a forma de minúsculos pulsos tensão. A presença ou ausência de um impulso, em um determinado período de tempo, pode ser usado para realizar cálculos.


     Ao usar tais pulsos, cada um com duração de um picossegundo, a RSFQ prometeu aumentar as velocidades para valores superiores a 100 gigahertz. Além disso, uma junção Josephson gasta energia na faixa de apenas um milionésimo de um picojoule, consideravelmente menos do que consumido por transistores de silício.
     As junções Josephson do Bell Labs e a RSFQ da Universidade Estadual de Moscou reacenderam o interesse na eletrônica supercondutora. Em 1997, os EUA lançaram o projeto Hybrid Technology Multi-Threaded (HTMT), que foi apoiado pela NSA e outras agências. O objetivo da HTMT era bater o nível de supercomputação convencional do silício, usando circuitos integrados RSFQ e outras tecnologias.




Foto: Judy Conlon/NASA. O projeto Hybrid Technology Multi-Threaded utilizou uma nova forma de lógica supercondutora chamada RSFQ (“rapid” single-flux-quantum logic). O membro da equipe Dmitry Zinoviev é mostrado segurando uma garrafa de hélio líquido.


     Era um programa ambicioso que enfrentou uma série de desafios. Os próprios circuitos RSFQ limitavam o potencial de eficiência da computação. Para alcançar uma velocidade elevada, a RSFQ usa resistências para proporcionar polarizações elétricas às junções Josephson, a fim de mantê-las perto do limite da comutação. Em um experimento com circuitos RSFQ de vários milhares de junções Josephson polarizáveis, a dissipação de energia estática foi insignificante. Mas em um supercomputador de escala petaflop, possivelmente com muitos bilhões de tais dispositivos, haveria significativo consumo de energia.
     O projeto HTMT terminou em 2000. Oito anos mais tarde, um supercomputador convencional da IBM foi apontado como o primeiro a alcançar o funcionamento em petaflop. Ele continha cerca de 20.000 microprocessadores de silício e consumiu 2,3 ​​megawatts.
     Para muitos pesquisadores que trabalham com a eletrônica supercondutora, o período por volta do ano 2000 marcou uma mudança: a computação quântica. Esta nova direção foi inspirada pelo trabalho do matemático Peter Shor, que sugeriu que um computador quântico pode ser uma poderosa ferramenta criptoanalítica, capaz de decifrar rapidamente comunicações criptografadas. Em seguida, os projetos em computação quântica e circuitos digitais supercondutores estavam sendo patrocinados pela NSA e a DARPA.
     Ninguém sabia como construir um computador quântico, mas muitas pessoas tinham ideias. Na IBM e em outros lugares, engenheiros e cientistas se voltaram para os principais pilares do supercondutor eletrônico, os SQUIDs e as junções Josephson. Um SQUID exibe efeitos quânticos sob operação normal, e foi bastante simples configurá-lo para funcionar como um bit quântico, ou qubit.
     Um dos centros deste trabalho foi o laboratório de ciências físicas da NSA. Construído perto da Universidade de Maryland, o laboratório é um espaço onde a NSA e pesquisadores externos podem colaborar em trabalhos relevantes para a insaciável sede da agência pelo poder da computação.
     No início dos anos de 2010, Marc Manheimer foi chefe da computação quântica no laboratório. Como ele recordou recentemente em uma entrevista, ele viu uma necessidade premente de circuitos digitais convencionais que poderiam cercar fisicamente bits quânticos, a fim de controlá-los e corrigir erros em escalas de tempo muito curtos. A maneira mais fácil de fazer isso, ele pensou, seria com elementos supercondutores, que poderiam operar com níveis de tensão e corrente semelhantes àqueles que controlariam os circuitos contendo qubits. Links ópticos poderiam ser usados para conectar este sistema híbrido com o mundo exterior e a computadores convencionais de silício.
     Manheimer afirma ainda que se tornou ciente do crescente problema do poder de computação do silício de alta performance, bem como os grandes bancos de servidores em centros de dados comerciais. “Quanto mais perto eu olhei para a lógica supercondutora”, diz ele, “ficou claro que tinha valor para a supercomputação”.
     Manheimer propôs um novo ataque direto no supercomputador supercondutor. Inicialmente ele estava cético. “Há uma história de fracasso”, disse ele. Mas, no início de 2013, tinha convencido a IARPA a financiar um programa chamado Cryogenic Computing Complexity (C3).
      A primeira fase do C3 foi a criação e avaliação de circuitos lógicos supercondutores e sistemas de memória, a serem fabricados no MIT Lincoln Laboratory - o mesmo laboratório onde Dudley Buck trabalhou.
     Em 2011, Quentin Herr da Northrop Grumman relatou uma alternativa interessante, uma forma diferente da lógica quântica chamada lógica quântica recíproca. Um circuito RQL consome 1/100.000 da energia do melhor circuito equivalente CMOS (complementary metal-oxide-semiconductor) e muito menos energia do que um circuito RSFQ equivalente.
     Uma lógica de semelhante eficiência energética chamada ERSFQ foi desenvolvida pela fabricante de eletrônicos supercondutores Hypres. A Hypres está trabalhando com a IBM, que continuou o seu trabalho fundamental de dispositivo supercondutor, mesmo depois de cancelar seu projeto de supercomputador.
     A Hypres também está colaborando com uma equipe do C3 liderada pelo laboratório Raytheon BBN Technologies, que tem sido ativo na pesquisa de computação quântica por vários anos. Lá, o físico Thomas Ohki e seus colegas vêm trabalhando em um sistema de memória criogênica que utiliza lógica supercondutora de baixo consumo para controlar, ler, e escrever em alta densidade, na magnetoresistiva RAM. Esse tipo de memória é outra mudança da computação supercondutora. Células de memória RSFQ são muito grandes. Memórias nanomagnéticas mais compactos, originalmente desenvolvidas para ajudar a estender a Lei de Moore, podem funcionar bem em baixas temperaturas.
     O circuito supercondutor mais avançado do mundo usa dispositivos baseados em nióbio. Embora tais dispositivos operem em torno de 4 Kelvin acima do zero absoluto, Manheimer diz que refrigerar é uma questão trivial.
     Uma grande questão tem sido a quantidade de energia necessária para o resfriamento, que eleva o orçamento de um computador supercondutor. Mas os defensores sugerem que não deve ser muito. Eles dizem que “a potência dissipada em um computador supercondutor é tão pequena que permanece 100 vezes mais eficiente do que um computador de silício”.
     O foco agora do C3 está nos componentes fundamentais. Essa primeira fase, que irá até 2017, pretende demonstrar os componentes centrais de um sistema de computador: um conjunto de circuitos lógicos de 64 bits capaz de rodar a uma taxa de 10 GHz e uma rede de memória criogênica com capacidade de 250 megabytes. Se esse esforço for bem sucedido, uma segunda fase de dois anos irá integrar esses componentes em um computador criogênico de tamanho ainda não especificado. Se o protótipo for considerado promissor, Manheimer estima que deve ser possível criar um verdadeiro computador supercondutor em 5 a 10 anos.
     Tal sistema seria muito menor do que os supercomputadores baseados em CMOS e requerem muito menos energia. Manheimer projeta que um supercomputador supercondutor produzido em seguida ao C3 pode rodar a 100 petaflops e consumir 200 quilowatts, incluindo o sistema de refrigeração. Seria 1/20 do tamanho do Titã, atualmente o supercomputador mais rápido nos Estados Unidos, mas oferece mais de cinco vezes o desempenho por 1/40 do consumo.



Fonte: IEEE Transactions on Applied Superconductivity, vol. 23, # 1701610; Marc Manheimer. Performance exige poder. Os supercomputadores mais poderosos de hoje consomem múltiplos megawatts (vermelho), sem incluir o arrefecimento. Computadores supercondutores com sistemas de refrigeração incluídos, são projetados para reduzir drasticamente esses requisitos de energia (azul).



     Um supercomputador com esses recursos, obviamente, representaria um salto enorme. Mas o destino do supercomputador supercondutor depende fortemente do que acontece com o silício. Enquanto um computador em exoescala feito com os atuais chips de silício pode não ser prático, grande esforço e bilhões de dólares estão sendo gastos em continuar a encolher os transistores de silício, bem como no desenvolvimento de ligações ópticas e de empilhamento 3-D. Tais tecnologias podem fazer uma grande diferença. Em julho de 2015, o presidente Barack Obama anunciou a National Strategic Computing Initiative e pediu a criação de um supercomputador em exoescala. O trabalho da IARPA sobre alternativas ao silício é parte dessa iniciativa. Para meados da década de 2020 especula-se que seja construída a primeira máquina em exoescala à base de silício. Se essa meta for cumprida, a chegada de um supercomputador supercondutor provavelmente seria adiada mais uma vez.
     Mas é muito cedo para contar com a computação supercondutora. Em comparação com o enorme investimento contínuo no silício ao longo das décadas, a computação supercondutora teve apoio escasso e intermitente. No entanto, mesmo com esta dieta de subsistência, físicos e engenheiros têm produzido uma sequencia impressionante de avanços. O apoio do programa C3, juntamente com a maior atenção da comunidade de computação, poderia levar a tecnologia adiante de forma significativa. Se tudo correr bem, os computadores supercondutores podem finalmente vir do frio.




domingo, 28 de fevereiro de 2016

O segredo quântico da supercondutividade (The Quantum Secret to Superconductivity)




Em um experimento notável, os físicos demonstraram detalhes de um “ponto crítico quântico” que subjaz a supercondutividade de alta temperatura.



O sistema magnético de 90 Tesla no Laboratório Nacional de Campos Magnéticos Intensos em Toulouse, França.




       Pesquisadores do Laboratório Nacional de Campos Magnéticos Intensos em Toulouse, França, descobriram uma propriedade fundamental dos cupratos, os supercondutores mais potentes conhecidos. As descobertas fornecem uma pista importante sobre o funcionamento interno destes materiais, e pode ajudar os cientistas a compreender como eles permitem que a eletricidade flua livremente a temperaturas relativamente elevadas.
       Os cientistas usaram um ímã de 90 Teslas (um campo magnético quase dois milhões de vezes maior que o da Terra), para momentaneamente interromper a supercondutividade em sua amostra. Isto revelou detalhes da fase subjacente a partir da qual o comportamento parece surgir.
       Os cientistas descobriram uma mudança brusca no comportamento que parece ser um “ponto crítico quântico” nos cupratos, que lembra o ponto de congelamento da água. Os teóricos há muito especulam que um ponto crítico quântico pode existir, e que poderia desempenhar um papel-chave na supercondutividade, disse Andrey Chubukov, um teórico da matéria condensada da Universidade de Minnesota. “Uma coisa é dizer isso; outra coisa é medi-la”, disse Chubukov.




Amostra do óxido de ítrio bário e cobre, um material que pertence à classe dos cupratos, os mais potentes supercondutores conhecidos.



       A força motriz da supercondutividade é mais forte nos cupratos. Nestes materiais, a supercondutividade ocorre em temperaturas mais elevadas do que em outros, sugerindo que seus elétrons estão emparelhados por uma ‘cola’ diferente e mais forte. Mas os cupratos ainda devem ser resfriados abaixo de -100 °C antes de se tornarem supercondutores. A ‘cola’ deve ser ainda mais reforçada se as temperaturas operacionais dos supercondutores aumentarem. Por 30 anos os cientistas perguntam: Qual é a cola - ou, mais precisamente, a interação mecânico-quântica entre os elétrons - que causa a supercondutividade nos cupratos?
       Enquanto a detecção de um ponto crítico quântico não responder definitivamente a essa pergunta, “isso realmente esclarece a situação”, disse Subir Sachdev, um teórico da matéria condensada da Universidade de Harvard. A descoberta derruba várias propostas para a ‘cola’ responsável pelo emparelhamento dos elétrons nos cupratos. “Existem agora dois candidatos de destaque para o que está acontecendo”, disse Sachdev.
       Um dos candidatos, se confirmado, deve entrar para os livros didáticos como um fenômeno quântico completamente novo, com um exotismo que atrai muitos teóricos. Mas se for verdade a explicação convencional da supercondutividade de alta temperatura, então, os cientistas saberão identificar imediatamente a chave que deve ser acionada para reforçar o efeito. Nesse caso, na busca da supercondutividade à temperatura ambiente, o caminho à diante seria claro.



Sob a redoma


Os pesquisadores Proust Cyril, Louis Taillefer e colaboradores, desenvolveram um mapa, um diagrama de fases, que representa a mistura de diferentes fases exibidas pelos materiais quando suas propriedades são variadas. Os dois extremos do mapa são bem compreendidos: cristais puros do cuprato. No lado esquerdo do mapa, eles agem como isolantes. No lado direito os cupratos dopados com elétrons extras ou “buracos” (déficits de elétrons que se comportam como partículas de carga positiva), se comportam como metais. “A questão fundamental é: como o sistema vai de isolante a metal?”, questiona Taillefer. Os cientistas se perdem no emaranhado de fases que ocorrem em níveis intermediários de dopagem - incluindo a supercondutividade, que se eleva como uma abóbada no meio do diagrama de fase.




O diagrama de fase dos cupratos dopados com buracos.




       O mapa oferece uma pista: uma linha inclinada para cima e à esquerda por cima da abóbada da supercondutividade, dividindo duas outras fases, de maior temperatura. Estender esta linha para baixo até baixas temperaturas, e atingir a base da abóbada no seu ponto central. Teóricos já suspeitavam que a natureza deste ponto pode ser a chave para a compreensão da supercondutividade, que parece formar uma bolha em torno dele.
Quinze anos atrás, Taillefer e Proust começaram a pensar sobre como investigar esse possível ponto crítico. O problema era que as duas fases que observaram a temperaturas mais elevadas, desapareceram quando a supercondutividade surgiu. A fim de investigar o que acontece durante a transição de uma fase para outra, a equipe teve que encontrar uma maneira de parar os elétrons no cupratos a partir da formação dos pares supercondutores na vizinhança do ponto crítico.
       Para fazer isso, os cientistas precisavam de um grande ímã. Os campos magnéticos destroem a supercondutividade, exercendo forças opostas sobre os elétrons em cada par supercondutor, quebrando a sua ligação. Mas a cola de emparelhamento em um cuprato supercondutor é mais forte, sendo mais difícil de quebrar. “Nos cupratos, o campo magnético necessário para interromper a supercondutividade é muito alto”, disse Proust.




Um ímã poderoso


       Ímãs só podem ser tão fortes quanto os materiais de que são feitos, que devem suportar enormes forças mecânicas geradas por tsunamis de eletricidade.
       O ímã de 90 Tesla no LNCMI em Toulouse funciona através do carregamento de um banco de 600 capacitores que descarregam todos de uma vez em uma bobina do tamanho de uma lata de lixo. A bobina é feita de uma liga de cobre ultraforte reforçada com Zylon, uma fibra mais forte do que o Kevlar. Por cerca de 10 milissegundos, a enchente de corrente gera um campo magnético poderoso que funciona através do furo da bobina. Embora o ímã LNCMI não se iguale à potência do magneto de 100-Tesla no Los Alamos National Laboratory, “somos capazes de fazer um pulso muito longo, duas vezes mais do que em Los Alamos”, permitindo medições mais precisas, disse Jérôme Beard.
       Quando os engenheiros construíram o ímã, colaboradores da University of British Columbia prepararam as amostras do cuprato chamado óxido de ítrio bário e cobre (YBa2Cu3Oy). Eles doparam as amostras com quatro diferentes concentrações de buracos, abrangendo ambos os lados em torno do hipotético ponto crítico. Depois de resfriar as amostras a -223 °C e de bombardear com pulsos magnéticos, destruindo momentaneamente a supercondutividade, mediram uma propriedade do material que indica o número de buracos por átomo que estão envolvidos no transporte de eletricidade. Normalmente, esta “densidade de portadores” aumenta gradualmente em função da dopagem. Mas em um ponto crítico, seria esperada uma mudança repentina, indicando uma reorganização espontânea dos elétrons no cristal. E foi isso que os cientistas mediram: um salto repentino de seis vezes a densidade dos portadores em 19% de dopagem, o local esperado do ponto crítico.



Ponto crítico quântico


O ponto crítico nos cupratos é um “ponto crítico quântico”, ou um ponto de equilíbrio entre dois estados quânticos em competição. O estado quântico que prevalece à esquerda do ponto crítico quântico no diagrama de fases faz com que os elétrons sejam “ordenados”, ou dispostos em um padrão. O efeito quântico que domina na direita faz com que os elétrons se movimentem livremente. Mas à medida que o sistema se aproxima do ponto crítico a partir da esquerda ou da direita, a quantidade de ordem no sistema começa a flutuar, devido à concorrência entre os dois estados. São estas flutuações de ordem que supostamente dão origem à supercondutividade na vizinhança do ponto crítico quântico. A questão é: Que tipo de ordem é?
Nos últimos cinco anos, os pesquisadores suspeitavam de um tipo de ordem conhecida como ondas de densidade de carga - essencialmente, ondulações das regiões excessivamente densas e subdensas de elétrons. Mas o novo experimento, bem como as recentes descobertas indicam que a onda de densidade de carga morre em um nível de dopagem menor, muito longe à esquerda do ponto crítico quântico. Agora, duas possibilidades principais permanecem.
       A opção mais convencional, proposta no final de 1980 por David Pines, Douglas Scalapino e outros teóricos, é o antiferromagnetismo, um tipo de ordem na qual os elétrons alternam suas direções de spin em um padrão de xadrez - cima, baixo, cima, baixo etc. Flutuações neste arranjo de xadrez perto do ponto crítico quântico faz os elétrons alinharem seus spins de maneira oposta sendo atraídos um pelo outro e se emparelham, dando origem à supercondutividade. Várias observações indiretas suportam a hipótese do antiferromagnetismo. De acordo com Chubukov, porque esta ordem seria esperada para definir um ponto crítico quântico, a nova descoberta é “o elo necessário” na explicação do antiferromagnetismo.
       Mas se o antiferromagnetismo simples era a resposta, os físicos teriam desvendado o caso décadas atrás. Experimentadores há muito tentaram e não conseguiram detectar a ordem antiferromagnética na fase do canto superior esquerdo da abóbada da supercondutividade. “O problema nos cupratos é que ninguém encontra qualquer ordem de longo alcance”, disse Stephen Julian, um físico experimental da matéria condensada da Universidade de Toronto. Quando experimentadores procuram o padrão quadriculado, eles não encontram.
       Contudo, os defensores da explicação antiferromagnética apontam para a estrutura cristalina dos cupratos, que são, essencialmente, folhas bidimensionais empilhadas. Além disso, há o conhecido teorema Mermin-Wagner, o qual afirma que uma verdadeira ordem antiferromagnética de longo alcance não pode se desenvolver em materiais bidimensionais a temperaturas diferentes de zero. Em vez disso, talvez apenas manchas de ordem desenvolva, como seções de tabuleiro de xadrez, e estas não podem ser detectadas com as técnicas experimentais existentes. A ordem antiferromagnética de longo alcance se verifica apenas em temperaturas baixas, dizem os proponentes. O problema é que o antiferromagnetismo fica sobreposto pela fase que provoca – a supercondutividade - e por isso não pode ser observado.
       Nem todo mundo pensa que o teorema Mermin-Wagner é relevante. Davis destaca que a ordem antiferromagnética foi detectada em cupratos não dopados, que têm a mesma estrutura bidimensional. A falta de ordem antiferromagnética vista até agora perto do ponto crítico levou alguns pesquisadores a abandonarem essa ideia e apoiar uma teoria mais exótica apresentada por Sachdev. Ele postula uma espécie de ordem nos cupratos que não é vista em outros materiais. Nesta ordem, os elétrons formam compostos que possuem frações de rotação e carga. Sachdev afirma que remanescentes dessa ordem, a qual ele apelidou de líquido de Fermi fracionado ou estado FL*, forma o precursor da supercondutividade de alta temperatura.
       Decidir se o ponto crítico quântico recém-descoberto está associado com o antiferromagnetismo ou algo mais incomum como a FL* deverá mais uma vez exigir ímãs poderosos. Os pesquisadores experimentais já estão trabalhando em maneiras de procurar o padrão quadriculado da ordem antiferromagnética a baixas temperaturas, enquanto usa pulsos magnéticos para interromper a supercondutividade que surge lá.
       Se o antiferromagnetismo for a cola dos elétrons nos cupratos, então os teóricos deverão imediatamente determinar por que a cola é muito mais forte nestes materiais do que em outros. O estado FL*, por outro lado, iria fornecer aos teóricos um novo conjunto de indicações. De qualquer maneira, muitos estão otimistas de que estão no caminho certo para aumentar as temperaturas de operação dos supercondutores. “Eu acho que ninguém acredita num limite fundamental que impede a supercondutividade à temperatura ambiente”, disse Stephen Julian. “O tempo nos dirá. Algumas pessoas acham que será logo, enquanto outras pensam que vai demorar muito”.









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