A corrida pela fusão nuclear sustentável parece ter feito grandes progressos, depois que
um grupo de pesquisa chinês disse ter mantido por mais de um minuto um gás de
plasma superaquecido em 49,99 milhões de graus C.
Pesquisadores do Experimental Advanced Superconducting Tokamak (EAST) disseram que foram capazes de aquecer o gás quase três vezes a
temperatura no núcleo do Sol, e mantê-lo lá por 102 segundos.
O experimento envolveu o uso de um reator em forma
de anel no Instituto
de Ciências Físicas em Hefei, China, para
aquecer e controlar gás hidrogênio a temperaturas extremas, e mantê-lo no lugar
longe das paredes do anel usando ímãs supercondutores
de alta potência.
Fazer isso é
extremamente difícil, e as experiências anteriores só conseguiram, no máximo, mantê-lo
por menos de um minuto. A equipe chinesa foi capaz, ao que parece, de demonstrar
novas técnicas para aumentar esse tempo de forma significativa, e espera-se
aumentar ainda mais esse registro por um fator de 10 nos próximos anos.
Em si mesmo, o
processo demonstrado pela equipe não gera energia, mas é considerado uma peça
técnica fundamental no quebra-cabeça. A fusão nuclear envolve o uso de grandes
quantidades de energia para sua criação e para manter a reação por tempo
suficiente de modo a obter mais energia do que aquela gasta no início. Fazer
isso exige controlar o plasma de hidrogênio, que é o objetivo da equipe
chinesa.
As implicações da
fusão nuclear são extraordinárias. O objetivo final é uma nova forma de energia
limpa, barata e sustentável, que não requer o uso de elementos extremamente
raros. Em teoria, isso representaria uma fuga da dependência de combustíveis
fósseis e de velhas tecnologias de fissão nuclear, mais perigosas e sujas.
Cientistas
do Instituto
Max Planck usaram sua máquina para aquecer
hidrogênio a 100 milhões °C por um curto período. STEFAN SAUER/AFP/Getty Images
O avanço chinês vem menos de uma semana depois de
uma equipe do Instituto Max Planck aquecer
hidrogênio a temperaturas ainda mais intensas - até 100 milhões °C -, mas por períodos de tempo muito mais curtos. O governo alemão
tem dedicado mais de £ 1 bilhão para a busca da fusão nuclear, mesmo quando o
objetivo final é visto a décadas de distância.
Em termos de
temperatura bruta, 50 milhões °C é uma
mera brisa suave. A temperatura mais quente feita pelo homem - e, até onde sabemos,
o ponto mais quente do universo - chegou a 5,5 trilhões °C, e foi criado em 2012 dentro do Large Hadron Collider. O experimento foi suficiente para esmagar partículas e criar o
plasma quark-glúon, uma forma exótica de matéria que existia imediatamente após
o Big Bang.
De acordo com o South
China Morning Post, a equipe chinesa no EAST disse que seu novo recorde está abaixo dos seus próprios objetivos,
que é manter uma temperatura de cerca de 100 milhões °C por 1.000 segundos.
Fazer isso seria um feito extraordinário, embora ainda deixasse a humanidade muitos
anos longe de uma solução comercialmente viável da fusão.
Felizmente, existe colaboração
internacional - caótica, mas real - no domínio da fusão, bem como a
concorrência: a China é um membro do projeto Reator Termonuclear
Experimental Internacional, atualmente em construção na
França, que visa produzir um reator capaz de gerar 500 megawatts de fusão por
400 segundos.