Representação da forma do feixe de íons de hélio criando uma
junção Josephson em escala atômica num cristal supercondutor de alta temperatura,
o YBa2Cu3O7-d. A inserção retrata a aparência do
dispositivo em escala macroscópica (milímetros). Crédito: Meng Ma / UCSD
Físicos da Universidade
da Califórnia em San Diego (UCSD), desenvolveram uma nova maneira de
controlar o transporte de correntes elétricas em supercondutores de alta
temperatura. A descoberta abre caminho para o desenvolvimento de dispositivos
eletrônicos sofisticados, capazes de permitir que cientistas ou médicos meçam
de forma não invasiva os minúsculos campos magnéticos do coração ou do cérebro,
e melhorem as comunicações por satélite.
“Acreditamos que esta nova abordagem vai ter um
impacto significativo e de longo alcance em medicina, física, ciência de
materiais e de satélites de comunicações”, disse Robert Dynes, professor de física na UCSD. “Isso vai permitir o desenvolvimento de uma nova geração de dispositivos
eletrônicos supercondutores cobrindo um amplo espectro, variando de
magnetômetros altamente sensíveis para medições biomagnéticas do corpo humano até
matrizes em grande escala para comunicações de banda larga por satélite. Em
ciência básica, espera-se que contribua para o entendimento dos mistérios de
supercondutores não convencionais e poderá desempenhar um papel importante em
novas tecnologias, como a ciência da informação quântica”.
Os pesquisadores
encontraram uma forma de controlar o transporte elétrico nestes materiais
através da construção de um dispositivo dentro do material supercondutor
chamado de ‘junção Josephson’, análogo em função do transistor em eletrônicos
semicondutores. Ele é composto de dois eletrodos supercondutores separados por
cerca de um nanômetro.
Circuitos construídos
a partir de junções Josephson, chamados de dispositivo supercondutor de
interferência quântica (SQUID), são usados para
detectar campos magnéticos extremamente pequenos, mais de 10 bilhões de vezes
menor do que o da Terra. Uma grande desvantagem para esses dispositivos é a
baixa temperatura necessária para a sua operação, normalmente apenas 4 graus
acima do zero absoluto. Isto exige sistemas de refrigeração intrincadas e
dispendiosos.
Pesquisadores da UCSD, da
esquerda para a direita: Shane Cybart, Bob Dynes, Meng Ma e Ethan Cho. Crédito:
Ethan Cho/UCSD
Quase três décadas se
passaram desde a descoberta do primeiro supercondutor de alta temperatura e o progresso
na construção de dispositivos eletrônicos com esses materiais tem sido muito
lento. Isso porque o controle do processo em escala inferior a 10 nanômetros é
necessário para fazer junções Josephson de alta qualidade fora desses materiais.
Os físicos da UCSD uniram-se a Carl Zeiss
Microscopy em Peabody (Massachusetts), que dispõem de equipamentos capazes de gerar
feixes altamente focados de íons de hélio, visando experimentar uma abordagem
que acreditavam poder evitar problemas anteriores.
“Usando o feixe de hélio finamente focado doZeiss
Orion's,nós irradiamos e, portanto, desordenamos uma
região nanométrica do supercondutor para criar o que é chamado de ‘barreira de tunelamento
quântico’ e fomos capazes de escrever circuitos Josephson diretamente em um
filme fino do óxido supercondutor”, afirmou Shane Cybart, físico
que desempenhou um papel fundamental nas descobertas. “Usando esse método de escrita direta eliminamos
o tratamento litográfico e oferecemos a promessa de um caminho simples de
circuitos quânticos que operam em temperaturas mais práticos”.
“A chave para este método é que os
supercondutores de alta temperatura são muito sensíveis aos defeitos pontuais provocados
pelo feixe de íons na rede cristalina. O aumento dos níveis de irradiação tem o
efeito de aumentar a resistividade e reduzir a temperatura de transição
supercondutora”, disse Cybart. “Em níveis muito
elevados de irradiação, o supercondutor se torna isolante. Isso nos permite
usar o pequeno feixe de hélio para escrever estas junções diretamente no
material”.
Os físicos que
entraram com um pedido de patente para licenciar sua descoberta, agora estão
colaborando com pesquisadores médicos para aplicar o seu trabalho no
desenvolvimento de dispositivos que podem medir de forma não invasiva os
minúsculos campos magnéticos gerados dentro do cérebro, a fim de estudar
distúrbios cerebrais, como o autismo e epilepsia em crianças.
“No campo das comunicações, estamos
desenvolvendo comunicações por satélite de taxa de transferência de dados de alta
largura de banda,” disse Cybart. “Na ciência básica,
estamos usando essa tecnologia para estudar materiais supercondutores cerâmicos
visando ajudar a determinar a física que rege o seu funcionamento de modo a conduzir
a melhores materiais que operam em temperaturas ainda mais altas”.
A D-Wave
Systems anunciou nesta semana que ultrapassou a marca de processamento de 1000
qubits (bits quânticos) com um novo chip que tem o dobro do tamanho do último
criado pela própria empresa. Com isso, o processador considera 21000
possibilidades simultaneamente, o que minimiza as 2512
possibilidades que estavam disponíveis com o D-Wave Two. Para efeito de
comparação, o número de possibilidades que o chip pode considerar é maior do
que o número de partículas de todo o universo visível.
Em termos
práticos, a conquista tecnológica da D-Wave
Systems permitirá que um computador quântico possa resolver problemas
computacionais mais complexos do que qualquer outro. Isso porque o qubit, que é
uma unidade de informação com propriedades quânticas, trata os dados de maneira
diferente do bit comum. Em vez de considerar as informações de forma isolada,
como fazem os computadores tradicionais, ele as integra para criar novas
dimensões para o processamento.
“Quebrar a barreira
dos 1000 qubits marca o resultado de anos de pesquisa e desenvolvimento de
nossos cientistas, engenheiros e fabricantes”, afirmou Vern Brownell, CEO da
D-Wave. “Esse é um passo essencial para trazer a
promessa da computação quântica para lidar com problemas mais desafiadores que
as organizações possam enfrentar, sejam eles técnicos, comerciais, científicos
ou de segurança nacional”.
Os novos
processadores, que compreendem mais de 128.000 junções Josephson em 6 camadas
de metal num processo de 0,25 µm, são os supercondutores de circuitos
integrados mais complexos já produzidos com sucesso. Para que funcionem, esses chips precisam
estar 40% mais refrigerados do que os outros processadores quânticos – que já
requeriam estar próximos do zero absoluto. Com esse novo processo de
fabricação, a D-Wave conseguiu também reduzir o barulho dos
componentes em 50%.
“Para a indústria de
computação de alto desempenho, a promessa da computação quântica é muito
emocionante. Ela oferece o potencial para resolver problemas importantes que
não podem ser resolvidos hoje ou tomariam uma quantidade razoável de tempo para
isso”, disse Earl Joseph,
vice-presidente da IDC ao HPC.
Baseada
em Palo Alto, na Califórnia, a D-Wave é
a maior fabricante de componentes de computação quântica do momento e presta
serviços para a NASA e Google.
Ilustração mostrandoa ideiapara a introdução deumsistema de dois níveis(qubit ou átomoartificial)emuma cavidade optomecânica. No interior
dacavidade(azul), há um sistema quânticode dois níveis(verde), que é compatívelmecanicamente(vermelho). Fonte (Nature): http://www.nature.com/ncomms/2015/150427/ncomms7981/fig_tab/ncomms7981_F1.html.
Quando
um espelho reflete a luz, ele experimenta um leve empurrão, mas é
insignificante em nossas vidas diárias. Nosso mobiliário não está em movimento devido
à pressão de radiação da luz porque uma lâmpada de 100 Watt causa uma pressão
de apenas um trilionésimo (uma parte em 1.000.000.000.000) da pressão
atmosférica normal.
Radiação
certamente pressiona matéria no espaço, as caudas dos cometas apontam tipicamente
para longe do Sol, devido à pressão de radiação, e isso tem sido proposto como
propulsão para velas solares. Em terra firme, a radiação tem sido aproveitada
no domínio da física do laser, pode ser usada para acoplar o campo
eletromagnético do laser com o movimento de pequenos osciladores mecânicos que
podem ser encontradas no interior de relógios comuns. Devido à fragilidade da
interação, geralmente precisa de lasers substancialmente fortes.
Um novo
estudo mostra que esta pressão de radiação pode ser aumentada consideravelmente
- com a ajuda de uma pequena ilha supercondutora. Jani Tuorila da Universidade de Oulu explica que a pressão
de radiação nos sistemas são mensuráveis apenas quando o oscilador é atingido
por milhões de fótons, porém, colocando uma ilha supercondutora entre o campo
eletromagnético e o oscilador para mediar a interação, a força da pressão de radiação
pode ser aumentada consideravelmente.
“Nas
medidas, exploramos o acoplamento das junções Josephson, especialmente seu
caráter não-linear”, diz o co-autor Juha
Pirkkalainen da Universidade Aalto, o pesquisador que realizou as medições.
Os pesquisadores foram capazes de alterar o acoplamento da pressão de radiação
de forma significativa. Com a ilha supercondutora, a pressão de radiação
aumentou um milhão de vezes.
Devido
ao aumento da pressão de radiação, o oscilador observa o campo eletromagnético
com a precisão de um único fóton. Correspondentemente, os osciladores
revelam-se ao campo com a resolução de um único quantum de oscilações, um fônon.
A
pesquisa permite a observação de fenômenos quânticos em estruturas maiores do
que antes, permitindo assim estudar a validade das leis da mecânica quântica em
grandes estruturas. Será que isto ocorre apenas com partículas muito pequenas? A
existência de um limite superior para a região da validade não foi encontrado
ainda.
A resistência nula dos supercondutores
torna estes materiais ideais para circuitos elétricos. No entanto, continuam a serem
inviáveis, devido às baixas temperaturas em que operam. Isso acontece porque o
estado supercondutor é altamente suscetível ao ruído térmico, o que perturba a
ordem eletrônica de longo alcance necessária para manter a supercondutividade,
induzindo uma transição para um estado não supercondutor na temperatura
crítica. Agora Samuel Denny
e colegas da Universidade de Oxford, propõem que com pulsos de radiação
terahertz, os supercondutores poderiam permitir que sejam transitoriamente
resfriados, reduzindo o impacto do ruído térmico.
Os
autores consideram o cuprato um material supercondutor modelo formado por
camadas duplas empilhadas, onde os fluxos de corrente são perpendiculares às
camadas. O material é então submetido a uma onda electromagnética na faixa do terahertz
que excita modos de vibração do material (fônons). Estes, por sua vez,
transferem sua excitação para os plásmons (excitações coletivas de elétrons), convertendo
sua frequência. Ajustando a frequência (terahertz) de condução, os
pesquisadores calculam que este sistema pode funcionar como um refrigerador,
bombeando ativamente o calor para fora dos plásmons de baixa frequência. Isso
ajuda a proteger de ruído térmico a ordem de longo alcance dos materiais e pode
fazer a supercondutividade mais “robusta”. Por exemplo, mais corrente pode ser transportada
através do material sem quebrar o estado supercondutor.
O
método proposto foi estudado para supercondutores já resfriados abaixo de suas
temperaturas de transição e apenas se mantém eficaz por alguns picosegundos
após a terahertz de condução ter sido desligada. Mas os autores sugerem que estratégias
semelhantes, com base em técnicas de arrefecimento a laser, um dia pode ajudar
a aumentar a temperatura crítica de um determinado material.
Uma equipe de
cientistas doNISTdesenvolveu e
demonstrou uma nova tecnologia de memória em nanoescala para computadores que
usam supercondutores que poderia acelerar o advento de uma tão aguardada
alternativa de baixo consumo de energia para data centers convencionais.
Nos últimos anos, a gigantesca crescente demanda de
dados de computação em nuvem, o uso da Internet, suporte a dispositivos móveis
e outras aplicações, levaram a criação de recursos de computação centralizada
em centenas de milhares de sites em todo o mundo.
Essas instalações funcionam 24 horas por dia e
empregam matrizes de servidores baseados em semicondutores que exigem
quantidades substanciais de energia elétrica e geram grande quantidade de calor
- que por sua vez exige ainda mais energia para remover. Mesmo que as
necessidades de energia para todos os centros de dados norte-americanos sejam
satisfeitas, as limitações inerentes dos semicondutores define o limite para a
futura capacidade de processamento onde o volume de informação digital aumenta
exponencialmente.
Uma tecnologia promissora é a
computação que utiliza supercondutores, a qual oferece a perspectiva de
trnasportar informações sem perdas através de canais de resistência zero.Em
vez de usar transistores semicondutores para comutar sinais eletrônicos, estes
sistemas usam componentes minúsculas chamadas junções Josephson (JJ).Estes operam perto do zero absoluto (de
4 K a 10 K), dissipam quantidades minúsculas de energia (menos de 10-19joule por operação), e pode ser
alternado entre os estados em centenas de bilhões de vezes por segundo
(freqüências de gigahertz), em comparação com poucos gigahertz de computadores
que utilizam semicondutores.
Até o momento, muitas
tecnologias-chave como circuitos lógicos, interconexões de componentes e memória
criogênica, necessárias para um computador que use supercondutores, ainda não
foram desenvolvidas.Mas oIntelligence
Advanced Research Projects Activity (IARPA)determinou que, graças ao recente
progresso da pesquisa, as ‘bases para um grande avanço’ estão agora em vigor, e
lançou um programa para investigar a viabilidade prática da computação que usa
supercondutores.
Cientistas doNISTforam contratados para desenvolver as metrologias e
avaliação dos métodos necessários para o programaIARPA.Mas, muito antes do início do programa
um dos obstáculos mais difíceis para a computação que usa supercondutores já
vinha sendo focado: a falta de um sistema de memória que pode trabalhar na
temperatura criogênica e a uma velocidade impressionante dos interruptores JJ
enquanto também requer energia operacional mínima.
Um módulo de memória da equipe
doNISTé uma junção Josephson modificada com dimensões na
escala de 100 nanômetros.Entre os dois eletrodos da junção
supercondutora, os cientistas fabricaram uma barreira de multi-camada que
consiste em dois materiais magnéticos diferentes, separados por um metal não
magnético.
A relação entre as polaridades
das duas camadas magnéticas - que podem ser alinhadas paralela ou
anti-paralelamente - determina a magnitude da supercorrente na junção
Josephson, e pode ser igual ou diferente de zero da tensãoatravés da junção.Esse efeito é baseado na competição
intrincada entre supercondutividade e magnetismo que foi inequivocamente
demonstrada no trabalho da equipe doNIST.Esses dois estados de corrente ou
tensão pode representar 0 ou 1 - valores binários para memória do computador
supercondutor.O tamanho do dispositivo pode ser
reduzido, como será necessário para alta capacidade de memória, sem perder a
capacidade de diferenciar o estado.
As propriedades magnéticas da
barreira podem ser controladas apenas através de correntes elétricas em vez do
campo magnético.Isto é conseguido através de um
processo chamado de transferência de torque de spin: uma corrente normal, com
uma distribuição uniforme de spin, passa através da camada magnética fixa, que
atua como um filtro de tal modo que os elétrons que emergem são polarizados por
rotação.O momento angular associado a esse
estado de spin é então transferido para a camada livre, mudando o seu
alinhamento magnético.O
processo é reversível.Este
efeito tem sido amplamente estudado para memórias magnéticas à temperatura ambiente,
mas geralmente para memórias baseadas na mudança de resistência
(magnetorresistência).
Ambas operações, ler e
escrever, são escaláveispara nanodispositivos.Ler pode ser realizada por sondagem ad
força da supercondutividade com uma energia minúscula.A energia de gravação pode ser
melhorada com a engenharia do material magnético e redução do tamanho do
dispositivo;o limite final é dado pela energia
magnética que também é minúscula.Combinado comnonvolatility(sem necessidade de refrigeração) e velocidade,
este híbrido supercondutor-magnético promete uma tecnologia alternativa para
memórias de semicondutores.
Outros grupos têm desenvolvido
dispositivos híbridos supercondutores-magnéticos de vários tipos.Mas
o módulo doNISTé o primeiro a utilizar efeitos
spintrônicos, que são particularmente difíceis de caracterizar em nanoescala.O híbrido doNISTpode ser facilmente integrado com os
sistemas supercondutores, e os pesquisadores estão analisando os comportamentos
de diferentes configurações e materiais de barreira sob várias condições para o
uso na memória e outras funções.
“A combinação de baixa perda de lógica
supercondutora não volátil, a memória magnética híbrida pode revolucionar a
computação e armazenamento de dados dentro de uma década”, dizRon Goldfarb,
líder doMagnetics Groupe membro de apoio da equipe doNIST.“O recente trabalho doNISTdemonstrando comutação spintrônica de
dispositivos híbridos de memória magnética-supercondutora foi uma prova vital
de princípio. Outros grupos estão trabalhando em diferentes implementações.
Devido à sua experiência de medição e imparcialidade, aNISTserá responsável por testes paraIARPA”.
Olhando para o futuro,Goldfarbdiz:“O desenvolvimento
de novos tipos de processadores de computador para além dos limites dos
semicondutores é uma área emergente de pesquisa interdisciplinar. Isso inclui
novos tipos de lógica computacional, memória principal, memória de cache e de
armazenamento em massa para supercomputadores, processadores de imagem e
centros de dados. A partir de uma perspectiva de medidas, há uma necessidade de
testar o protótipo e aferir a confiabilidade, reprodutibilidade, dissipação de
energia e desempenho de alta velocidade desses componentes, dispositivos,
circuitos, e os seus materiais constituintes”.
Filmes de metal de apenas um átomo de
espessura ou dois podem se tornar supercondutores em temperaturas próximas do
zero absoluto. No entanto, nestes materiais bidimensionais, pequenas
imperfeições, como alterações na elevação de um átomo pode bloquear
o fluxo das supercorrentes. Um novo estudo de vórtices em filmes de metal supercondutores
fornece a primeira evidência direta de que defeitos atômicos se comportam como
junções Josephson - estruturas feitas de dois supercondutores separados por uma
barreira isolante. Os resultados implicam que os defeitos atômicos permitem o
fluxo de supercorrentes a uma velocidade limitada, o que pode torná-los úteis
como elementos funcionais em futuros dispositivos supercondutores 2D.
Em 2010,
físicos descobriram que filmes metálicos adsorvidos na superfície de silício
poderiam se comportar como supercondutores. A descoberta veio como uma
surpresa, uma vez que se esperava que as flutuações quânticas interrompessem a
supercondutividade em estruturas 2D. Uma grande quantidade de pesquisa agora é
dedicada a testar quão grande é a robustez desta supercondutividade. Imperfeições
atômicas e outros defeitos de superfície normalmente têm pouco efeito sobre supercondutores
volumétricos (3D), mas claramente influenciam o comportamento de materiais
ultrafinos.
Takashi
Uchihashi e seus colegas realizaram medidas usando a microscopia de
tunelamento por varredura em filmes de índio depositados em superfícies de
silício. Especificamente, a equipe estudou a formação de vórtices viajando em
torno de um circuito fechado que aparece em certos supercondutores quando um
campo magnético externo é aplicado. Os pesquisadores observaram que a maioria
dos vórtices era circular com um núcleo interior não supercondutor. No entanto,
os vórtices localizados ao longo dos defeitos atômicos estavam em forma
elíptica, e seus núcleos eram supercondutores. As simulações numéricas
mostraram que esse comportamento era consistente com as imperfeições atômicas
fornecendo um acoplamento Josephson entre diferentes patamares do filme.
A
empresa D-Wave parecia um tiro no
escuro quando lançada em 1999. Um ramo da University of British Columbia (UBC),
a empresa pretendia comercializar o que na década de 1990 era um campo relativamente
controverso e teórico - a computação quântica. A computação quântica é a arte
de manipular entidades atômicas e explorar peculiaridades da física conhecida como “efeitos quânticos” para armazenar
informações de forma mais densa e obter respostasinstantaneamente de
algoritmos complexos. A computação quântica é um desafio dos dois lados. Primeiro
você precisa desenvolver um hardware capaz de explorar os tipos desejados de
manipulação quântica. Segundo, você precisa programar o hardware com um
algoritmo quântico derivado de um algoritmo clássico, como o algoritmo Page
Rank de busca do Google.
Na
década de 1990, nem o hardware nem o desenvolvimento de algoritmos quânticos
era avançado o suficiente para ser considerado comercialmente viável. Mas a D-Wave
jogou os dados e lançou uma startup na esperança de que poderia mudar isso no
lado do hardware. Trabalhando em estreita colaboração com a UBC, com a Universidade de Toronto, com o laboratório de propulsão a jato da NASA e várias outras
instituições de pesquisa americanas e canadenses, a D-Wave conseguiu atingir o
improvável – construiu um hardware de computação quântica com potencial
comercial.
Em
2007, ele executou sua primeira demonstração pública no sistema “Orion” de 16
qubits (qubit = bit quântico), que tinha uma parte especial de hardware chamado
de “processador supercondutor quântico adiabático”. O processador quântico foi
mais do que um co-processador no sentido de que ele não foi projetado para
computação de propósitos gerais, mas para rodar algoritmos quânticos
especializados carregados pelo hardware convencional.
Soluções
foram geradas a partir de um processo complexo conhecido como 'recozimento
quântico' (quantum annealing). Mais especificamente, o sistema da D-Wave opera
através do entrelaçamento quântico - uma espécie de ligação psíquica
(metaforicamente falando) entre elétrons em que espelham seus estados uns nos
outros (mais especificamente, espelham uns nos outros os spins sobre seus
respectivos núcleos atômicos). Para obter resultados quânticos confiáveis, o sistema é resfriado a uma
temperatura tão fria quanto ou mais que o espaço
sideral.
Inicialmente, a alegação da D-Wavepossuir o primeiro computador quântico funcional foi controversa. Contudo, os céticos foram
incapazes de refutar suas reivindicações. Apoiadores como a NASA publicaram evidências
dando suporte à sua possível validade.
O primeiro projeto revelado
publicamente da D-Wavefoi o processador
“Orion” de 16 qubits
Desde
o início, aplicações para a pesquisa eram evidentes. Junto com a resolução dos
enigmas de Sudoku e um problema de escalonamento, um dos três demos iniciais em
2007 envolveu a busca de moléculas conhecidas em um banco de dados. Determinados
algoritmos de busca de gráfico são problemas NP-completos; portanto, é
impossível em um sentido convencional gerar uma solução exata na maioria dos
casos.
A D-Wave iniciou a
produção comercial com o processador “Orion” de 16-qubit
O
objetivo é desenvolver a heurística para fornecer uma boa aproximação com base
nas necessidades. Um dos objetivos centrais da D-Wave foi desenvolver um hardware comercial para obter soluções
aproximadas de problemas NP-completos muito mais rápido do que é possível com
hardware convencional.
Em
maio de 2011, a D-Wave anunciou a
disponibilidade de um processador de 128 qubit apelidado de “Rainier”
(codinome: Chimera). O sistema completo tinha um preço de US$ 10 milhões de
dólares. Este sistema tem uma temperatura operacional de 13,8 milikelvin (mK).
A temperatura média que ocorre naturalmente no espaço sideral é
de aproximadamente 2,7 K -
quase 200 vezes maior do que a temperatura no interior do computador quântico.
D-Wave lançou em 2012
processadores quânticos de 128 qubits
Apesar
do custo, o sistema recebeu várias compras. Os clientes incluem Universidade de
Harvard, a Lockheed Martin Corp.
(LMT) e a Universidade de Cornell. Enquanto o sistema mostrou resultados
questionáveis em termos de aceleração, ao
menos desmistificou o ceticismo fornecendo indícios de que o complexo
equipamento funcionou como descrito.
O computador quântico
One D-Wave vendido por US$ 10 milhões de dólares
Mais
tarde naquele ano, a D-Wave apresentou
o Vesúvio (D-Wave Two) com 512-qubit.
O design do D-Wave Two foi um salto
crucial, uma vez que finalmente começou a eclipsar os computadores tradicionais
em velocidade. Em alguns casos, o D-Wave
Two foi centenas de vezes mais rápido quando comparado o melhor algoritmo
quântico com o algoritmo clássico mais apto em hardware tradicional.
Google e D-Wave:
enredados por uma causa comum
O
envolvimento da Google com a D-Wave
remonta há mais de meia década. Em 2009, uma das primeiras demonstrações de
protótipos iniciais da D-Wave
envolveu um algoritmo quântico de busca de imagem da Google. Em maio de 2013, o Google e a D-Wave aprofundaram a parceria anunciando a abertura do laboratório Google Quantum Artificial Intelligence. O laboratório foi
co-patrocinado pela NASA e pela Universities Space Research Association (USRA). Ele mostrou que em vários indicadores, o
D-Wave poderia oferecer uma
aceleração de 3 a 5 ordens de magnitude maior do que dos algoritmos e hardwares
convencionais.
Google
usou suas caixas da D-Wave
para otimizar partes do seu sistema operacional Android. Enquanto eles se recusaram
a revelar certos detalhes, o Google disse que as otimizações alcançadas com o
hardware quântico foram muito além do que era possível com o seu hardware
convencional. Uma caixa da D-Wave
poderia fazer o trabalho de otimização, em alguns casos, de todo um grande
centro de dados.
Em
maio, o laboratório ofereceu uma validação crucial da tecnologia D-Wave, usando uma técnica chamada
espectroscopia de tunelamento de qubit. Eles observaram uma forte evidência de
entrelaçamento quântico durante uma parte chave do processo. Esta validação foi
muito importante, já que algumas perguntas permaneciam se a máquina da D-Wave verdadeiramente realizava o quantum annealing. Enquanto descrições da
física quântica forneceram o melhor ajuste para métricas observadas
anteriormente, estudos indicam que os modelos clássicos demonstraram um comportamento semelhante. O novo trabalho do Google
et al., mostrou de forma inequívoca
que os mecanismos quânticos estavam trabalhando dentro das misteriosas caixas
da D-Wave.
Sangue novo!
A
parceria anunciada recentemente com a UCSB traz a bordo um dos maiores
especialistas do mundo em supercondutores, o físico John Martinis. Professor
Martinis ganhou o prêmio de Londres - um prêmio de investigação de ponta - para
aplicações de supercondutores na computação quântica. Sua especialidade está no
controle quântico - sistemas químicos que permitem manipulação de estados
quânticos - e processamento de informação quântica - projetar algoritmos
quânticos especializados (software) para analisar conjuntos de dados complexos.
O grupo do professor Martinis:
Austin Fowler, Rami Barends, Professor John Martinis e Julian Kelly
Hartmut
Neven, diretor de engenharia do Google relata:
Com um grupo
de hardware integrado, a equipe agora será capaz de implementar e testar novos
designs para otimização quântica e processadores de inferência baseados em recentes
conhecimentos teóricos, bem como em nosso aprendizado a partir da arquitetura quantum
annealing da D-Wave. Vamos continuar colaborando com os cientistas da D-Wave e
experimentar a máquina "Vesúvio" na NASA, que será atualizada para 1000
qubit do processador "Washington".
A D-Wave revelou no ano passado que a sua
concepção de qubit consiste de alças supercondutoras compostas de nióbio, com
uma camada isolante de óxido de alumínio na junção. Os loops supercondutores
são conhecidos como junções Josephson, em homenagem ao físico britânico Brian David Josephson que ganhou um prêmio Nobel de Física por descrever, em 1962, o
comportamento deste tipo de circuito.
Circuitos
supercondutores de nióbio e óxido de alumínio podem ser construídos em um substrato
de silício para projetos de eletrônica quântica. [Fonte da imagem: IEEE Spectrum]
A
fase e a carga do supercondutor utilizado são fundamentais para quanto tempo os
qubits podem ser mantidos e que níveis de emaranhamento podem ser alcançados
durante o quantum annealing. Nióbio é
o supercondutor líder usado nestas junções, que também são conhecidas como junções túnel (STJ). Não há substituto para o nióbio que é o supercondutor elementar de
mais alta temperatura crítica (9,26 K). Investigações sugerem que o tecnécio
sob alta pressão pode alcançar 11,2 K, porém mais trabalho precisa ser feito
para analisar a viabilidade da utilização de um material em uma STJ.
Nióbio elementar na
forma de liga é azul e é encontrado em depósitos cristalinos. [Fonte da
imagem: Wikimedia Commons]
Entretanto,
professor Martinis pode focar seus conhecimentos na otimização da geometria da
junção e nas técnicas de deposição para produzi-la de forma consistente e
acessível. Ele deve também trabalhar para produzir um tipo especial de geometria
na junção Josephson - uma junção em forma de cruz que ele chama de “XMON”. Em
abril, sua equipe publicou um artigo na Nature sobre ‘xmons’ de
qualidade perto de comerciais. Xmons
mostram emaranhamento superior a outras geometrias da junção, mas (como afirma
o artigo) está apenas começando a se aproximar da disponibilidade comercial.
Professor Martini
desenvolveu uma junção Josephson melhorada que tem uma geometria em forma de
cruz. Ele a chama de um qubit “XMON”. [Fonte da imagem: UCSB]
A
recompensa para o Google irá, em curto prazo, ser realizada por meio de
algoritmos de otimização de software que caçam pelas ineficiências em um código
base. Em longo prazo, o Google pode ser capaz de abaixar os preços desses
sistemas quânticos o suficiente para torná-los utilizáveis como um backend de busca
para o seu motor de imagens, proporcionando uma busca muito mais veloz e inteligente.