Aplicações da Supercondutividade - O skate voador da Lexus

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Equipe chinesa faz descoberta inesperada sobre fusão (Chinese team makes unexpected fusion breakthrough)





A corrida pela fusão nuclear sustentável parece ter feito grandes progressos, depois que um grupo de pesquisa chinês disse ter mantido por mais de um minuto um gás de plasma superaquecido em 49,99 milhões de graus C.



Pesquisadores do Experimental Advanced Superconducting Tokamak (EAST) disseram que foram capazes de aquecer o gás quase três vezes a temperatura no núcleo do Sol, e mantê-lo lá por 102 segundos.
O experimento envolveu o uso de um reator em forma de anel no Instituto de Ciências Físicas em Hefei, China, para aquecer e controlar gás hidrogênio a temperaturas extremas, e mantê-lo no lugar longe das paredes do anel usando ímãs supercondutores de alta potência.
     Fazer isso é extremamente difícil, e as experiências anteriores só conseguiram, no máximo, mantê-lo por menos de um minuto. A equipe chinesa foi capaz, ao que parece, de demonstrar novas técnicas para aumentar esse tempo de forma significativa, e espera-se aumentar ainda mais esse registro por um fator de 10 nos próximos anos.
     Em si mesmo, o processo demonstrado pela equipe não gera energia, mas é considerado uma peça técnica fundamental no quebra-cabeça. A fusão nuclear envolve o uso de grandes quantidades de energia para sua criação e para manter a reação por tempo suficiente de modo a obter mais energia do que aquela gasta no início. Fazer isso exige controlar o plasma de hidrogênio, que é o objetivo da equipe chinesa.
     As implicações da fusão nuclear são extraordinárias. O objetivo final é uma nova forma de energia limpa, barata e sustentável, que não requer o uso de elementos extremamente raros. Em teoria, isso representaria uma fuga da dependência de combustíveis fósseis e de velhas tecnologias de fissão nuclear, mais perigosas e sujas.




Cientistas do Instituto Max Planck usaram sua máquina para aquecer hidrogênio a 100 milhões °C por um curto período. STEFAN SAUER/AFP/Getty Images



O avanço chinês vem menos de uma semana depois de uma equipe do Instituto Max Planck aquecer hidrogênio a temperaturas ainda mais intensas - até 100 milhões °C -, mas por períodos de tempo muito mais curtos. O governo alemão tem dedicado mais de £ 1 bilhão para a busca da fusão nuclear, mesmo quando o objetivo final é visto a décadas de distância.
     Em termos de temperatura bruta, 50 milhões °C é uma mera brisa suave. A temperatura mais quente feita pelo homem - e, até onde sabemos, o ponto mais quente do universo - chegou a 5,5 trilhões °C, e foi criado em 2012 dentro do Large Hadron Collider. O experimento foi suficiente para esmagar partículas e criar o plasma quark-glúon, uma forma exótica de matéria que existia imediatamente após o Big Bang.
     De acordo com o South China Morning Post, a equipe chinesa no EAST disse que seu novo recorde está abaixo dos seus próprios objetivos, que é manter uma temperatura de cerca de 100 milhões °C por 1.000 segundos. Fazer isso seria um feito extraordinário, embora ainda deixasse a humanidade muitos anos longe de uma solução comercialmente viável da fusão.
     Felizmente, existe colaboração internacional - caótica, mas real - no domínio da fusão, bem como a concorrência: a China é um membro do projeto Reator Termonuclear Experimental Internacional, atualmente em construção na França, que visa produzir um reator capaz de gerar 500 megawatts de fusão por 400 segundos.



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Pesquisadores descobrem novas propriedades da supercondutividade (Waterloo physicists discover new properties of superconductivity)






 Físicos da Universidade de Waterloo descobriram, num determinado tipo de supercondutor de alta temperatura, evidência experimental do que é conhecido como nematicidade eletrônica - quando nuvens de elétrons se encaixam dentro de uma ordem direcional e alinhada. Os resultados podem eventualmente levar a uma teoria que explique por que a supercondutividade ocorre em temperaturas mais elevadas em certos materiais.
       “Neste estudo, identificamos alguns alinhamentos inesperados dos elétrons - um achado que provavelmente é genérico para os supercondutores de alta temperatura e com o tempo pode vir a ser um ingrediente-chave do problema”, diz David Hawthorn, professor no departamento de Física e Astronomia da Universidade de Waterloo.
Os resultados mostram evidências de nematicidade eletrônica como uma característica universal em supercondutores de alta temperatura (os cupratos). Cupratos são cerâmicas de óxido de cobre, compostas de camadas bidimensionais ou planos de cobre e oxigênio, separadas por outros átomos. Eles são conhecidos como os melhores supercondutores de alta temperatura. Mas esses supercondutores de alta temperatura tem sido um desafio para prever, muito menos explicar.
       “Tornou-se evidente nos últimos anos que os elétrons envolvidos na supercondutividade podem formar padrões, listras ou tabuleiros de damas, e exibem diferentes simetrias – alinhando preferencialmente ao longo de uma direção. Esses padrões e simetrias levam a consequências importantes para a supercondutividade - eles podem competir, coexistir ou até mesmo melhorar a supercondutividade,” diz David Hawthorn.
       Os cientistas usaram uma nova técnica chamada espalhamento de raios-x macio, no Canadian Light Source, para sondar o espalhamento dos elétrons em camadas específicas da estrutura cristalina do cuprato. Especificamente, eles observaram os planos individuais de CuO2 onde a nematicidade eletrônica ocorre, contra as distorções cristalinas entre os planos de CuO2.
       A nematicidade eletrônica acontece quando os orbitais dos elétrons se alinham como uma série de hastes (bastões). O termo nematicidade comumente se refere a cristais líquidos quando se alinham espontaneamente sob um campo elétrico. Neste caso, os orbitais dos elétrons entram no estado nemático quando a temperatura cai abaixo de um ponto crítico.
       Os cupratos podem se tornar supercondutores pela adição de elementos que removem elétrons do material, um processo conhecido como dopagem. Um material pode ser otimamente dopado para alcançar a supercondutividade a uma temperatura mais elevada e mais acessível, mas para estudar como a supercondutividade ocorre, os físicos frequentemente trabalham com o material “underdoped”, ou seja, quando o nível de dopagem é menor do que o necessário para maximizar a temperatura supercondutora.
       Os resultados deste estudo mostram que provavelmente a nematicidade eletrônica ocorre em todos os cupratos “underdoped”.
       Os físicos também querem compreender a relação da nematicidade com um fenômeno conhecido como flutuações nas ondas de densidade de carga (charge density wave). Normalmente, os elétrons estão numa boa, distribuídos uniformemente, mas o ordenamento de carga pode fazer com que os elétrons se agrupem, como ondulações em uma lagoa. Isso configura uma competição, em que o material está flutuando entre os estados supercondutor e normal até que a temperatura esfrie o suficiente para a supercondutividade prevalecer.
       Embora não exista ainda um consenso sobre o porquê a nematicidade eletrônica ocorre, ela pode vir a apresentar outro botão para sintonizar a busca por um supercondutor que funcione à temperatura ambiente.
       “O trabalho futuro vai abordar como a nematicidade eletrônica pode ser sintonizada, ao modificar a estrutura cristalina”, diz David Hawthorn.



quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Máquina quântica dos sonhos da Google (Google’s Quantum Dream Machine)



John Martinis pesquisa a 30 anos como funcionam os computadores quânticos. Agora, ele pode estar à beira de finalmente fazer um útil.



       Os fundamentos teóricos da computação quântica estão bem estabelecidos. E os físicos podem construir as unidades básicas, conhecidas como qubits, dos quais um computador quântico pode ser feito. Eles podem até mesmo operar qubits juntos em pequenos conjuntos. Mas eles ainda não construíram um computador quântico completo.
       O físico John Martinis é uma figura de destaque no campo: seu grupo de pesquisa na Universidade da Califórnia, Santa Barbara, demonstrou alguns dos qubits mais confiáveis. Ele foi contratado pela Google em 2014, depois de convencer a empresa de que a tecnologia poderia amadurecer rapidamente com o apoio certo. Com seu novo laboratório, Martinis supõe que possa demonstrar um computador quântico pequeno, mas útil, em dois ou três anos. “Costumamos dizer que estamos dando à luz a indústria de computadores quânticos”, diz ele.
       A Google e a computação quântica é um jogo feito no céu algorítmico. A empresa é frequentemente definida por uma fome insaciável de dados. Mas a Google tem um vício estratégico mais urgente: a tecnologia que extrai informações dos dados, e até mesmo cria a inteligência a partir deles. Mais recentemente, a Google tem investido fortemente no desenvolvimento de software AI que pode aprender a compreender linguagem ou imagens, executar raciocínio básico, ou dirigir um carro. Tarefas estas que permanecem complicadas para os computadores convencionais, mas que deve ser trivial para os computadores quânticos. “Aprendizagem de máquina é um núcleo, um modo de transformação pelo qual estamos repensando como fazemos tudo”, diz Sundar Pichai, CEO do Google. Apoiar esse esforço seria o primeiro de muitos trabalhos para a nova indústria quântica de Martinis.


Criador de sonhos
       A perspectiva de um computador quântico fazendo algo útil dentro de poucos anos parecia remota. Pesquisadores do governo, acadêmicos e laboratórios corporativos estavam longe de combinar qubits suficientes para fazer até mesmo uma máquina simples. Uma startup canadense chamada D-Wave Systems, vendeu alguns exemplares do que chamou de “primeiros computadores quânticos comerciais do mundo”, mas passou anos sem conseguir convencer os especialistas de que as máquinas realmente estavam fazendo o que um computador quântico deveria fazer.
       Então, a NASA convocou os jornalistas para a construção do N-258 em seu centro de pesquisa, que desde 2013 tinha um computador da D-Wave comprado pela Google. Em um teste cuidadosamente projetado, o chip supercondutor dentro do computador da D-Wave foi 100 milhões de vezes mais rápido que um processador convencional.
       No entanto, este tipo de vantagem deve estar disponível em tarefas práticas da computação, não apenas em testes inventados. “Precisamos tornar mais fácil tomar um problema que surge na mesa de um engenheiro e colocá-lo no computador”, disse Neven, especialista em aprendizado de máquina. É aí que vem Martinis. Neven acha que a D-Wave não pode obter uma versão do seu quantum annealer rápido o suficiente para servir aos engenheiros da Google, então ele contratou Martinis. “Ficou claro que não podemos esperar”, diz Neven. “Há uma lista de deficiências que precisam ser superadas, a fim de chegar a uma tecnologia real”. Ele diz que os qubits no chip da D-Wave são pouco confiáveis ​​e não estão ligados entre si densamente o suficiente.
       A Google vai concorrer não só com a D-Wave, mas também com a Microsoft e a IBM, que têm projetos relevantes de computação quântica. Mas essas empresas estão focadas em projetos distantes de se tornarem úteis. Estima-se que o grupo de Martinis pode fazer um quantum annealer com 100 qubits até 2017. A D-Wave já tem 1.097 qubits, mas Neven diz que um chip de alta qualidade com menor número de qubits deve ser útil para algumas tarefas.
       O quantum annealer pode rodar apenas um determinado algoritmo, mas é adequado para as áreas que a Google mais se preocupa. As principais aplicações são reconhecimento de padrões e aprendizagem de máquina, segundo William Oliver, um membro da equipe do MIT Lincoln Laboratory, que estudou o potencial da computação quântica.
       Martinis e sua equipe estão se adaptando a muitas coisas, uma vez que os qubits são instáveis e inconstantes. Os qubits podem ser feitos de várias maneiras (Martinis usa alças de alumínio refrigeradas até se tornarem supercondutoras), mas todas representam dados por meio de estados quânticos delicados que são facilmente distorcidos ou destruídos pelo calor e ruído electromagnético.
       Qubits usam sua física frágil para fazer a mesma coisa que transistores quando usam a eletricidade em um chip convencional: representam bits binários de informação, 0 ou 1. Mas os qubits podem atingir um estado (chamado de superposição), que é 0 e 1 ao mesmo tempo. Qubits em uma superposição podem ser conectados por um fenômeno conhecido como entrelaçamento, onde uma ação realizada em um tem efeitos imediatos no outro. Esses efeitos permitem que uma única operação em um computador quântico faça o trabalho de muitas, muitas operações em um computador convencional. Em alguns casos, a vantagem de um computador quântico sobre um convencional cresce exponencialmente com a quantidade dos dados a serem trabalhados.
       A dificuldade de criar qubits estáveis ​é a razão de ainda não termos computadores quânticos. Mas Martinis acha que está quase lá. O tempo de coerência de seus qubits, ou o período de tempo que mantém uma superposição, é dezenas de microssegundos - cerca de 10.000 vezes maior que os da D-Wave.
       A confiança de Martinis no hardware do seu time o faz pensar que ele pode construir uma alternativa ainda mais poderosa para a Google. Um computador quântico universal, como seria chamado, pode ser programado para enfrentar qualquer tipo de problema, não apenas matemático. A teoria por trás dessa abordagem é melhor compreendida do que para outros annealers, em parte porque a maioria do tempo e do dinheiro investido em pesquisa de computação quântica têm se dedicado a computação quântica universal. Mas os qubits não são confiáveis o suficiente para traduzir a teoria em um computador quântico universal que funcione. Até março, quando Martinis e sua equipe se tornaram os primeiros a demonstrarem qubits que cruzaram um limiar crucial da confiabilidade para um computador quântico universal. Eles conseguiram um chip com nove qubits para executar parte de um programa de verificação de erros, o chamado código de superfície, necessário para tal computador funcionar. “Nós demonstramos a tecnologia em um ponto onde eu sabia que nós poderíamos escalar”, diz Martinis. “Este era real.”
       Martinis pretende apresentar um computador quântico universal de 100 qubits em dois anos. Isso seria um marco na ciência da computação, mas seria improvável ajudar os programadores da Google imediatamente. Tal é a complexidade do código de superfície que, apesar de um chip com 100 qubits poder executar o programa de verificação de erros, seria incapaz de fazer qualquer trabalho útil, além desse, diz Robert McDermott, que lidera um grupo de pesquisa de computação quântica na Universidade de Wisconsin. No entanto, Martinis acredita que uma vez que ele torne seus qubits confiáveis ​​o suficiente para colocar 100 deles em um chip quântico universal, estará aberto o caminho para combinar muitos mais. “Isso é algo que entendemos muito bem”, diz ele. “É difícil conseguir coerência, mas é fácil de escalá-la.”


Algoritmos estúpidos
       Quando Martinis explica porque sua tecnologia é necessária para a Google, ele não poupa os sentimentos das pessoas que trabalham na AI. “Algoritmos de aprendizagem de máquina são realmente uma espécie idiota”, diz ele, com um toque de admiração em sua voz. “Eles precisam de muitos exemplos para aprender.”
       Descobrir como os chips de Martinis podem tornar o software da Google menos estúpido recaiu para Neven. Ele acha que o poder prodigioso dos qubits vai reduzir o hiato entre aprendizagem de máquina e aprendizagem biológica e refazer o campo da inteligência artificial. “A aprendizagem da máquina será transformada em aprendizagem quântica”, diz ele. Isso poderia significar um software que pode aprender a partir de dados mais confusos, ou de menos dados, ou mesmo sem instrução explícita. Por exemplo, os pesquisadores da Google têm projetado um algoritmo que poderia permitir ao software de aprendizagem de máquina assimilar um novo truque mesmo quando metade dos dados de exemplos é incorreta. Neven comenta que este tipo de músculo computacional pode ser a chave para dar aos computadores capacidades limitadas aos seres humanos.
       Os pesquisadores da Google não podem fazer muito além de especular sobre o que exatamente poderiam ou deveriam fazer com os chips que Martinis está construindo. Vai levar tempo para construir a infra-estrutura necessária para operar um grande número de dispositivos exóticos para que eles possam contribuir materialmente para os negócios da Google.




quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Cientistas preveem que a fosfina é supercondutora sob alta pressão (Scientists predict that phosphine’s superconductivity under pressure arises due, in part, to the chemical decomposing)





Ilustrações de dois compostos feitos de átomos de fósforo (laranja) e átomos de hidrogênio (branco). Tais compostos são potenciais supercondutores, e podem se formar quando a fosfina é comprimida sob pressões extremamente altas.  Crédito: Tyson Terpstra


       Fosfina é um dos mais novos materiais classificado como um supercondutor. Em 2015, cientistas relataram que tinham liquefeito sob alta pressão em um torno de diamantes para conseguir a supercondutividade.
       Agora, um grupo de pesquisadores está fornecendo insights sobre o que pode ter acontecido com a fosfina, uma vez submetida a compressão intensa.
       Químicos da University at Buffalo dizem que de acordo com os seus cálculos, a supercondutividade da fosfina sob pressão, provavelmente surge devido ao composto que se decompõe em outros produtos químicos contendo fósforo e hidrogênio.
       “É provavelmente uma mistura desses produtos de decomposição - e não a fosfina em si - que resulta na supercondutividade observada”, diz Eva Zurek, professora de química na UB.
       “Em experiências onde altas pressões estão envolvidas, é difícil os cientistas caracterizarem quais materiais eles criaram”, diz Zurek. “Contudo, compreender o que está realmente lá é importante porque nos dá uma ideia de como podemos fazer novos compostos supercondutores.”


Quebrar as coisas (literalmente)
       À temperatura ambiente, a fosfina é composta por um átomo de fósforo (P) e três de hidrogênio (H).
       Os investigadores calcularam que, sob pressão, o PH3 torna-se instável e provavelmente se decompõe em estruturas que incluem PH2, PH e PH5, que são mais estáveis.
       A equipe usou o XtalOpt, um programa de código aberto, para entender quais combinações de fósforo e hidrogênio eram estáveis ​​a pressões de até 200 gigapascal - quase 2 milhões de vezes a pressão da atmosfera terrestre. Pressão esta similar àquela que a fosfina foi submetida no experimento.


A busca por supercondutores
       O interesse no campo se intensificou ano passado, quando uma equipe liderada por Mikhail Eremets, quebrou os recordes de temperatura anteriores, ao considerar que um composto de hidrogênio e enxofre comprimido a 150 gigapascal era um supercondutor a 203 Kelvin, cerca de -94 °Fahrenheit. Isso pode parecer frio, mas é muito mais quente do que os limites anteriores.
       Eremets e seus colegas também realizaram experimentos sobre a fosfina, com a supercondutividade observada a temperaturas superiores a 100 Kelvin (cerca de -280 graus Fahrenheit).
       “Encontrar materiais que são supercondutores a altas temperaturas irá revolucionar a nossa infra-estrutura de energia elétrica, porque praticamente nenhuma energia será desperdiçado durante a transmissão e distribuição através de fios supercondutores”, diz Zurek. “Além disso, magnetos supercondutores podem ser empregados para trens de levitação de alta velocidade. Estas tecnologias existem hoje em dia, mas os supercondutores devem ser resfriados a temperaturas muito baixas para funcionarem.”







terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Pesquisadores criam o primeiro supercondutor auto-montado (Researchers create first self-assembled superconductor)





O Grupo Wiesner da Universidade de Cornell sintetizou pela primeira vez um supercondutor nanoestruturado obtido via processos de auto-montagem. A figura apresenta um ímã levitando sobre um supercondutor à base de bismuto, com imagens da microscopia eletrônica e de simulações do material nanoestruturado. Crédito: Universidade de Cornell

 
Com quase duas décadas de pesquisa, uma equipe multidisciplinar da Universidade de Cornell desbravou um novo caminho, criando um supercondutor tridimensional auto-montado.
Ulrich Wiesner, professor de ciência e engenharia dos materiais, que lidera o grupo, diz que é a primeira vez que um supercondutor, o nitreto de nióbio (NbN), tem uma estrutura porosa auto-montada. A estrutura obtida é cúbica complexa baseada em uma superfície que divide o espaço em dois volumes separados que são interpenetrantes e contêm várias espirais. Os poros e o material supercondutor possuem dimensões de cerca de 10 nanômetros, o que poderia levar a perfis de propriedades inteiramente novas de supercondutores.
Atualmente, a supercondutividade para usos práticos como em imagens de ressonância magnética (MRI) e reatores de fusão, só é possível a quase zero absoluto de temperatura (-459.67° Fahrenheit), embora experimentos já tenham alcançado -70 °C (-94 °F).
Wiesner almejava há mais de duas décadas obter um supercondutor com a estrutura cúbica complexa, a fim de explorar como isso afetaria as propriedades supercondutoras. A dificuldade estava em descobrir uma maneira de sintetizar o material. O avanço foi alcançado com a decisão de usar o NbN.
O grupo de Wiesner começou usando copolímeros orgânicos para estruturar o óxido de nióbio (Nb2O5) em redes tridimensionais alternadas. O grupo construiu duas estruturas de rede entrelaçadas, então removeu uma delas por aquecimento a 450 graus.
A descoberta da equipe contou com um pouco de ‘sorte’, disse Wiesner. Na primeira tentativa para alcançar a supercondutividade, o óxido de nióbio (sob uma corrente de amoníaco para a conversão para o nitreto) foi aquecido a uma temperatura de 700 graus. Depois de esfriar o material até à temperatura ambiente, determinou-se que a supercondutividade não tinham sido atingida. O mesmo material foi, em seguida, aquecido a 850 graus, resfriado e testado, e a supercondutividade tinha sido alcançada.
Wiesner disse que o grupo não é capaz de explicar por que o aquecimento, resfriamento e reaquecimento funciona, mas “é algo que nós estamos investigando”, acrescentou.
Estudos anteriores em supercondutores nanoestruturados foram limitados, em parte, à falta de material adequado para o teste. O trabalho da equipe de Wiesner é o primeiro passo em direção a investigações nesta área.
“Estamos dizendo à comunidade, 'Ei, estes materiais podem ajudar a gerar estruturas supercondutoras completamente novas, que podem ter novas propriedades. Vale a pena olhar para isso’”, disse Wiesner.



segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Domando os supercondutores com teoria de cordas (Taming Superconductors With String Theory)



Subir Sachdev tem usado a teoria de cordas para prever com precisão o comportamento dos supercondutores. Os resultados deverão ser publicadas na próxima edição da revista Science.




O físico Subir Sachdev usa ferramentas da teoria de cordas para entender o comportamento enigmático dos supercondutores. A teoria de cordas foi concebida como uma forma de unir as leis da mecânica quântica com a gravidade, visando criar a badalada “teoria de tudo”.
Por três décadas, os físicos têm sido incapazes de desenvolver uma teoria abrangente que explica como se comporta os elétrons em supercondutores de alta temperatura. Nestes materiais, os físicos procuram uma forma de impor a ordem coletiva sobre o comportamento dos elétrons.
Em 2007, Sachdev teve uma perspectiva surpreendente: ele percebeu que certas características da teoria de cordas correspondem à ‘sopa’ de elétrons encontrada em supercondutores de alta temperatura. Nos anos seguintes, Sachdev desenvolveu modelos da teoria de cordas que oferecem maneiras de investigar o comportamento dos elétrons em supercondutores de alta temperatura. Ele usou essas idéias para desenvolver experimentos em materiais como o grafeno. Agora, ele espera aplicar seus conhecimentos em supercondutores de alta temperatura.
Abaixo, segue uma entrevista de Sachdev para a Quanta Magazine. 

 

QUANTA MAGAZINE: O que acontece dentro de um supercondutor de alta temperatura?
Sachdev: A diferença entre materiais antigos e os novos materiais é que em materiais mais antigos, os elétrons conduzem eletricidade independentes um do outro. Eles obedecem ao princípio da exclusão, pelo qual elétrons não podem ocupar o mesmo estado quântico ao mesmo tempo e que se movem independentemente um do outro. Nos novos materiais, este modelo de elétrons independente falha. Eles se movem de forma cooperativa e suas propriedades quânticas estão conectadas.


Este entrelaçamento torna os supercondutores de alta temperatura muito mais complicados do que os supercondutores convencionais. Como você tem encarado o problema?
Geralmente eu abordo através da classificação das fases quânticas da matéria. Exemplos de fases quânticas simples são metais simples, como prata e ouro, ou isolantes simples como diamantes. Muitas dessas fases são bem compreendidas e aparecem em todos os lugares em nossa vida diária. Desde a descoberta dos supercondutores de alta temperatura, e muitos outros novos materiais, temos tentado compreender as outras propriedades físicas que podem surgir quando você tem trilhões de elétrons obedecendo princípios quânticos e também interagindo uns com os outros. Minha esperança é que o amplo ataque à classificação das fases quânticas da matéria levará a uma compreensão mais profunda dos supercondutores de alta temperatura.


Quão longe você foi?
Tem havido um grande progresso na compreensão da teoria das transições de fase quânticas, que envolve tomar duas fases quânticas da matéria que são muito diferentes entre si e ajustar alguns parâmetros - por exemplo, a pressão sobre um cristal - e verificar o que acontece quando o material vai de uma fase à outra. Tem havido uma enorme quantidade de progresso para uma ampla classe de transições de fase quânticas. Compreendemos agora muitos tipos diferentes de fases que não sabíamos que existiam.

 

Mas uma teoria completa de como os elétrons se comportam em supercondutores de alta temperatura têm sido difícil de desenvolver. Por quê?
Se você tem um único elétron se movendo através de uma rede, então só precisa se preocupar com as diferentes posições que o elétron pode ocupar. Mesmo que o número de posições seja grande, é algo que você pode simular em um computador. Mas quando você trabalha com muitos elétrons, deve raciocinar de maneira muito diferente. Uma forma de lidar com isso é imaginar que cada sítio da rede pode estar vazio ou cheio. Como N sítios corresponde a 2N, então as possibilidades são inimaginavelmente grandes. Nesse vasto conjunto de possibilidades, você deve classificar o que são coisas razoáveis ​​que um elétron tende a fazer. Em poucas palavras, é por isso que é um problema difícil.

 

Voltando às transições de fase, você passou muito tempo estudando o que acontece com um supercondutor de alta temperatura quando é aquecido. Neste ponto, ele se torna um “metal estranho.” Por que a compreensão de metais estranhos ajuda a entender supercondutores de alta temperatura?
Se você aumentar a temperatura de um material que se encontra no estado supercondutor, em algum momento a supercondutividade desaparece. Logo acima desta temperatura você observa um tipo de metal que chamamos de metal estranho, porque muitas de suas propriedades são diferentes de metais comuns. Agora imagine o caminho inverso, de modo que a fase de um sistema está mudando do estado ‘metal-estranho’ para o estado supercondutor. Se nós estamos determinando a temperatura em que isso acontece, precisamos comparar as energias dos estados quânticos em ambos os lados da temperatura crítica. Mas metais estranhos parecem estranhos em todos os aspectos, e nós temos apenas os modelos mais simples para as suas propriedades físicas.

 

O que torna os metais estranhos tão diferentes de outras fases quânticas?
Em certas fases, excitações (quânticas) geralmente se comportam como novas partículas emergentes. Elas são quasepartículas. Sua estrutura interna é muito complicada, mas do lado de fora elas se parecem com partículas comuns. A teoria da quasepartícula de muitos corpos se aplica praticamente a todos os estados que descobrimos nos materiais mais antigos. Metais estranhos são um dos casos mais proeminentes onde a teoria da quasepartícula falha. É por isso que é muito mais difícil estudá-los, porque esta ferramenta básica da teoria de muitos corpos não se aplica.

 

Você teve a ideia de que a teoria de cordas poderia ser útil na compreensão de fases quânticas que careciam das quasepartículas, como metais estranhos. Como a teoria de cordas é útil neste cenário?
Do meu ponto de vista, a teoria de cordas foi outra ferramenta matemática poderosa para entender um grande número de partículas quanticamente emaranhadas. Em particular, há certas fases da teoria de cordas em que você pode imaginar que as extremidades das cordas estão aderindo a uma superfície. Se você é uma formiga em movimento na superfície, você só vê as extremidades da corda. Para você, estas extremidades parecem partículas, mas realmente as partículas são conectados por uma corda que vai até uma dimensão extra. Para você, estas partículas que estão na superfície aparecerão emaranhadas, e é a corda na dimensão extra que está emaranhando as partículas. É uma maneira diferente de descrever emaranhamento.
Agora, você pode imaginar esse processo continuando não apenas com dois elétrons, mas com quatro, seis, muitos elétrons, em busca dos diferentes estados emaranhados que os elétrons podem formar. Isto está intimamente ligado com a classificação das fases da matéria. É uma descrição hierárquica de entrelaçamento, em que cada elétron encontra um parceiro, e, em seguida, os pares se emaranham com outros pares, e assim por diante. Você pode construir essa estrutura hierárquica utilizando a descrição de cordas. Por isso, é uma abordagem para falar sobre o emaranhamento de trilhões de elétrons.


Esta aplicação da teoria de cordas a metais estranhos tem algumas implicações interessantes. Por exemplo, ela levou a descrever conexões entre metais estranhos e as propriedades dos buracos negros. Como você vai de um para o outro?
No quadro geral da teoria de cordas, [alterar a densidade de elétrons] corresponde a colocar uma carga em um buraco negro. Muitas pessoas têm estudado isso nos últimos cinco anos ou mais - tentando compreender coisas sobre metais estranhos a partir das propriedades dos buracos negros carregados. Eu tenho um artigo recente em que eu encontrei um determinado modelo artificial de elétrons movendo-se em uma estrutura onde muitas propriedades correspondem precisamente às propriedades dos buracos negros carregados.


Eu li que Philip Anderson, considerado por muitos o físico mais influente da matéria condensada, é cético de que a teoria de cordas é realmente útil para entender metais estranhos. Você sabe se isso é verdade?
Eu acho que é verdade. Ele me disse que não acredita em nada disso, mas, você sabe, o que eu posso dizer, ele é um homem brilhante com seu próprio ponto de vista. Eu diria que quando propomos a ideia em 2007, ela certamente parecia loucura. Um grande progresso foi feito desde então. Eu tenho um novo artigo com Philip Kim e outros onde verifica-se que com o grafeno, que é um metal ligeiramente menos estranho, muitos dos métodos inspirados pela teoria de cordas levaram a previsões quantitativas que foram verificadas por meio de experimentos.
Eu acho que foi um dos melhores sucessos da teoria de cordas até o momento. Ela literalmente funciona, você pode obter os números corretos. Mas o grafeno é um sistema simples, e ainda não foi comprovado se esses métodos vão funcionar para supercondutores de alta temperatura.


Você poderia dizer mais sobre o por quê Anderson é cético em relação a abordagem que você adotou?
Se você olhar para os modelos da teoria de cordas, na superfície têm um aspecto muito diferente dos tipos de modelos que você precisa para supercondutores de alta temperatura. Você olha para os modelos de cordas e seus constituintes, e parece absurdo que estes estejam ligados aos constituintes dos supercondutores de alta temperatura. Mas se você tomar o ponto de vista que, ok, eu não estou dizendo literalmente que este modelo será encontrado em [supercondutores de alta temperatura], este é apenas um modelo que me ajuda a fazer progressos em questões difíceis, tipo como materiais sem quasepartículas se comportam, a teoria de cordas fornece exemplos de um desses materiais que é confiavelmente solucionável.

 

Como literalmente você está usando a teoria de cordas? É uma aplicação direta, ou você está se inspirando nela?
É mais inspiração. Uma vez que você resolve o modelo, ele fornece um monte de insights sobre outros modelos que você pode não ser capaz de resolver. Depois de seis ou sete anos trabalhando próximo da teoria de cordas, aprendemos bastante. Para nós, o próximo passo parece estar funcionando em sistemas mais realistas usando a inspiração que recebemos dos modelos mais solucionáveis.


Como podem os modelos da teoria de cordas, além do trabalho com o grafeno, colocá-lo em posição de compreender as propriedades de supercondutores de alta temperatura?
Quando você muda a densidade de elétrons em supercondutores de alta temperatura, há uma mudança muito mais dramática na qual os elétrons vão de um regime onde apenas alguns elétrons parecem se mover para outro em que todos os elétrons se movem. Estamos entendendo que há um ponto especial chamado a densidade ideal onde parece haver uma mudança dramática no estado quântico dos elétrons. E bem perto deste ponto é onde também se observa o metal estranho. Nós estamos tentando trabalhar fora das teorias microscópicas deste ponto especial onde o estado quântico muda, e modelos de corda podem nos ensinar muito sobre esses pontos quânticos críticos. Uma vez que tivermos o quadro completo, estamos esperançosos e otimistas de que podemos obter muitos insights do grafeno e aplicá-los a este modelo mais complicado. É onde estamos.




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