Redação do Site Inovação
Tecnológica - 09/09/2016
Ilustração
artística de três fótons emaranhados tirados do vácuo quântico - eles são
usados como substitutos para os qubits. [Imagem: Antti Paraoanu]
Rodopios
Se você
ainda não se acostumou à ideia do vácuo quântico e sua capacidade de fazer a matéria surgir do
nada, um novo conceito para o uso prático dessa propriedade, de fato muito
estranha, pode fazer sua cabeça rodar de vez.
A ideia, que
é essencialmente uma abordagem alternativa e muito mais radical para a computação
quântica, consiste em usar as partículas que emergem do vácuo quântico para
fazer cálculos.
Ou seja,
você não errará muito se disser que é uma "computação que emerge do
nada", ou, como se trata de uma computação que utiliza fótons virtuais
tornados reais, uma computação com "cores que surgem da escuridão".
Produção de
fótons a partir do vácuo
Um grupo de
físicos da Universidade de Aalto, na Finlândia, demonstrou experimentalmente
que os fótons que emergem do vácuo quântico podem ser usados para
codificar informações e fazer cálculos, substituindo os qubits por um novo tipo
de computação quântica, diferente dos sistemas ópticos mais comumente
desenvolvidos até agora.
A equipe
usou sensores magnéticos extremamente sensíveis, chamados SQUIDs (sigla em inglês para Dispositivos Supercondutores
de Interferência Quântica), para criar um ressonador, um dispositivo que oscila naturalmente em
frequências definidas.
Esse
ressonador supercondutor foi posto para funcionar a uma temperatura próxima do zero absoluto, quando cessa virtualmente qualquer movimento
térmico. Visto de outro modo, este estado corresponde à mais completa
escuridão, já que não está presente nenhum fóton - aqui nos referindo a uma
partícula real da radiação eletromagnética, como a luz visível ou micro-ondas.
E é aí,
nesse estado conhecido como vácuo quântico, que se observam flutuações que trazem à
existência fótons virtuais, ou partículas que surgem, se recombinam e
desaparecem em períodos de tempo muito curtos.
Esquema do
dispositivo usado pela equipe para gerar fótons a partir da escuridão e usá-los
para fazer cálculos. [Imagem: Pasi Lahteenmaki et al. - 10.1038/ncomms12548]
Computação
sem bits
Os
pesquisadores finlandeses conseguiram converter esses fótons virtuais emergindo
do vácuo quântico em fótons reais de radiação de micro-ondas, que podem ser
produzidos com diferentes frequências, ou cores, usando o ressonador. Em outras
palavras, assim como os experimentos anteriores haviam mostrado que o vácuo
quântico é mais do que a total ausência de matéria, visto desse modo pode-se
dizer que a escuridão também é mais do que a mera ausência de luz.
A grande
novidade é que os fótons de micro-ondas já nascem entrelaçados, ou seja, com
uma conexão íntima entre eles. E o entrelaçamento é uma das propriedades mais
exploradas pela computação quântica.
Como essas
correlações entre os fótons podem ser geradas de forma controlada pelo
ressonador, o sistema na verdade dispensa os qubits tradicionais, lançando uma
nova abordagem para a computação quântica.
“Isso tudo sugere a possibilidade de
utilizar as diferentes frequências para a computação quântica. Os fótons de
diferentes frequências vão desempenhar um papel semelhante ao dos registradores
nos computadores clássicos, e operações de portas lógicas poderão ser
realizadas entre eles,” explicou o
professor Sorin Paraoanu.
“Utilizando os sinais de micro-ondas
multifrequenciais, podemos adotar uma abordagem alternativa [para a computação
quântica] que cria portas lógicas como sequências de medições quânticas. Além
disso, se usarmos os fótons criados no nosso ressonador, os bits quânticos
físicos, ou qubits, tornam-se desnecessários,” acrescentou Pertti Hakonen, outro
membro da equipe.
Bibliografia:
Coherence and correlations from vacuum fluctuations in a microwave superconducting cavity. Pasi Lahteenmaki, Gheorghe Sorin Paraoanu, Juha Hassel, Pertti J. Hakonen. Nature Communications, Vol.: 7, Article number: 12548
DOI: 10.1038/ncomms12548
Coherence and correlations from vacuum fluctuations in a microwave superconducting cavity. Pasi Lahteenmaki, Gheorghe Sorin Paraoanu, Juha Hassel, Pertti J. Hakonen. Nature Communications, Vol.: 7, Article number: 12548
DOI: 10.1038/ncomms12548
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