Esquemática
da sequência de pulsos durante o STIRAP (passagem adiabática Raman estimulada)
Uma equipe de físicos na Universidade
Aalto liderada pelo Dr. Sorin
Paraoanu conseguiu domar o famoso “estado
escuro”, criado em um qubit supercondutor. Um qubit supercondutor é um
átomo artificial fabricado num chip de silício como um circuito elétrico de
capacitores e junções túnel. Essa tecnologia é uma das mais promissoras para a construção
de computadores quânticos.
No
experimento, o circuito foi operado em um regime em que já não absorve ou emite
ondas eletromagnéticas, de certa frequência, como se ele estivesse escondido
sob uma capa de invisibilidade - daí o termo “estado escuro”. Em seguida, usando uma sequência de pulsos de micro-ondas
cuidadosamente trabalhada, a equipe empregou o estado escuro para realizar uma
transferência de energia do estado fundamental para o segundo nível, sem popular
o primeiro. A quantidade de energia transferida neste processo corresponde a um
único fóton de micro-ondas. Isto é verificado por meio de tomografia quântica -
uma técnica de reconstrução da função de onda (em geral, a matriz de densidade)
pela aplicação de rotações em um espaço abstrato de qubit seguido pelas
medições.
“A correspondência
entre os dados experimentais e o modelo teórico é bastante notável, e isso nos
dá confiança de que entendemos o que está acontecendo e podemos controlar este
sistema quântico. Isso demonstra que os sistemas de três níveis (também
chamados qutrits) podem ser usados em processadores quânticos em vez dos qubits
normais de dois níveis”, afirma Antti Vepsäläinen, que
implementou esta técnica e realizou simulações numéricas.
E há
outro fato notável sobre a experiência: para realizar a transferência, os
pesquisadores usaram uma sequência não-intuitiva, aplicando no início um pulso
que acopla o primeiro nível com o segundo e só depois de algum tempo, o pulso acopla
o nível fundamental com o primeiro nível.
“Suponha que você
queira viajar de Helsinki para Nova York e você tem que mudar o seu voo em
Londres", explica Paraoanu. “Normalmente, você
primeiro voa de Helsinki para Londres, e depois de esperar algum tempo no
aeroporto de Londres, embarca no voo Londres-Nova York. No mundo quântico seria
melhor você embarcar no avião de Helsinki a Londres em algum momento após o voo
Londres-Nova Iorque ter decolado. Você não iria gastar tempo em Londres e chegaria
a Nova York no momento em que o avião partindo de Hesinki aterrissasse em
Londres.” Isso é espantoso, mas a experiência mostra que está de
fato acontecendo.
Além
da importância para a computação quântica, o resultado também tem implicações conceituais
profundas. Grande parte da nossa compreensão da realidade baseia-se no chamado princípio
da continuidade: a ideia de que influências se propagam daqui para lá, passando
por todos os lugares intermediários. Objetos reais não aparecem em algum lugar
do nada. Mas a experiência parece desafiar isso. Como em um grande show de
mágica, a física quântica permite que as coisas se materializarem aqui e ali,
aparentemente do nada.
John
Martinis pesquisa a 30 anos
como funcionam os computadores quânticos. Agora, ele pode estar à beira de
finalmente fazer um útil.
Os
fundamentos teóricos da computação quântica estão bem estabelecidos. E os
físicos podem construir as unidades básicas, conhecidas como qubits, dos quais
um computador quântico pode ser feito. Eles podem até mesmo operar qubits
juntos em pequenos conjuntos. Mas eles ainda não construíram um computador
quântico completo.
O físico
John Martinis
é uma figura de destaque no campo: seu grupo de pesquisa na Universidade da
Califórnia, Santa Barbara, demonstrou alguns dos qubits mais confiáveis. Ele
foi contratado pela Google em 2014, depois de convencer a empresa de que a
tecnologia poderia amadurecer rapidamente com o apoio certo. Com seu novo
laboratório, Martinis
supõe que possa demonstrar um computador quântico pequeno, mas útil, em dois ou
três anos. “Costumamos
dizer que estamos dando à luz a indústria de computadores quânticos”,
diz ele.
A Google
e a computação quântica é um jogo feito no céu algorítmico. A empresa é
frequentemente definida por uma fome insaciável de dados. Mas a Google tem um vício
estratégico mais urgente: a tecnologia que extrai informações dos dados, e até
mesmo cria a inteligência a partir deles. Mais recentemente, a Google tem
investido fortemente no desenvolvimento de software AI que pode aprender a
compreender linguagem ou imagens, executar raciocínio básico, ou dirigir um
carro. Tarefas estas que permanecem complicadas para os computadores
convencionais, mas que deve ser trivial para os computadores quânticos. “Aprendizagem de
máquina é um núcleo, um modo de transformação pelo qual estamos repensando como
fazemos tudo”, diz Sundar Pichai, CEO do Google. Apoiar esse esforço
seria o primeiro de muitos trabalhos para a nova indústria quântica de Martinis.
Criador de
sonhos
A
perspectiva de um computador quântico fazendo algo útil dentro de poucos anos
parecia remota. Pesquisadores do governo, acadêmicos e laboratórios
corporativos estavam longe de combinar qubits suficientes para fazer até mesmo
uma máquina simples. Uma startup canadense chamada D-Wave Systems,
vendeu alguns exemplares do que chamou de “primeiros computadores quânticos
comerciais do mundo”, mas passou anos sem conseguir convencer os especialistas
de que as máquinas realmente estavam fazendo o que um computador quântico deveria
fazer.
Então, a
NASA convocou os jornalistas para a construção do N-258 em seu centro de pesquisa,
que desde 2013 tinha um computador da D-Wave comprado pela Google. Em um teste cuidadosamente
projetado, o chip supercondutor
dentro do computador da D-Wave foi 100 milhões de vezes mais rápido que um
processador convencional.
No
entanto, este tipo de vantagem deve estar disponível em tarefas práticas da
computação, não apenas em testes inventados. “Precisamos tornar mais fácil tomar um problema
que surge na mesa de um engenheiro e colocá-lo no computador”, disse
Neven, especialista em aprendizado de máquina. É aí que vem Martinis. Neven acha que a D-Wave não pode obter uma versão do seu quantum annealer rápido o suficiente para
servir aos engenheiros da Google, então ele contratou Martinis. “Ficou claro que não podemos esperar”, diz Neven. “Há uma lista de
deficiências que precisam ser superadas, a fim de chegar a uma tecnologia real”.
Ele diz que os qubits no chip da D-Wave são pouco confiáveis e não estão ligados entre si
densamente o suficiente.
A Google
vai concorrer não só com a D-Wave, mas também com a Microsoft e a IBM, que têm
projetos relevantes de computação quântica. Mas essas empresas estão focadas em
projetos distantes de se tornarem úteis. Estima-se que o grupo de Martinis pode fazer um quantum
annealer com 100 qubits até 2017. A D-Wave
já tem 1.097 qubits, mas Neven diz que um chip de alta qualidade com menor
número de qubits deve ser útil para algumas tarefas.
O quantum annealer pode rodar apenas um
determinado algoritmo, mas é adequado para as áreas que a Google mais se
preocupa. As principais aplicações são reconhecimento de padrões e aprendizagem
de máquina, segundo William Oliver,
um membro da equipe do MIT Lincoln
Laboratory, que estudou o
potencial da computação quântica.
Martinis e sua equipe estão se adaptando a muitas coisas, uma
vez que os qubits são instáveis e inconstantes. Os qubits podem ser feitos de
várias maneiras (Martinis usa alças de alumínio refrigeradas até se tornarem supercondutoras), mas todas representam
dados por meio de estados quânticos delicados que são facilmente distorcidos ou
destruídos pelo calor e ruído electromagnético.
Qubits
usam sua física frágil para fazer a mesma coisa que transistores quando usam a
eletricidade em um chip convencional: representam bits binários de informação,
0 ou 1. Mas os qubits podem atingir um estado (chamado de superposição), que é
0 e 1 ao mesmo tempo. Qubits em uma superposição podem ser conectados por um
fenômeno conhecido como entrelaçamento, onde uma ação realizada em um tem
efeitos imediatos no outro. Esses efeitos permitem que uma única operação em um
computador quântico faça o trabalho de muitas, muitas operações em um
computador convencional. Em alguns casos, a vantagem de um computador quântico
sobre um convencional cresce exponencialmente com a quantidade dos dados a
serem trabalhados.
A
dificuldade de criar qubits estáveis é a razão de ainda não termos
computadores quânticos. Mas Martinis acha que está quase lá. O tempo de coerência de
seus qubits, ou o período de tempo que mantém uma superposição, é dezenas de
microssegundos - cerca de 10.000 vezes maior que os da D-Wave.
A
confiança de Martinis
no hardware do seu time o faz pensar que ele pode construir uma alternativa ainda
mais poderosa para a Google. Um computador quântico universal, como seria
chamado, pode ser programado para enfrentar qualquer tipo de problema, não
apenas matemático. A teoria por trás dessa abordagem é melhor compreendida do
que para outros annealers, em parte
porque a maioria do tempo e do dinheiro investido em pesquisa de computação
quântica têm se dedicado a computação quântica universal. Mas os qubits não são
confiáveis o suficiente para traduzir a teoria em um computador quântico
universal que funcione. Até março, quando Martinis e sua equipe se tornaram os primeiros a demonstrarem
qubits que cruzaram um limiar crucial da confiabilidade para um computador
quântico universal. Eles conseguiram um chip com nove qubits para executar
parte de um programa de verificação de erros, o chamado código de superfície,
necessário para tal computador funcionar. “Nós demonstramos a tecnologia em um ponto onde eu sabia que
nós poderíamos escalar”, diz Martinis. “Este era real.”
Martinis pretende apresentar um computador quântico
universal de 100 qubits em dois anos. Isso seria um marco na ciência da
computação, mas seria improvável ajudar os programadores da Google
imediatamente. Tal é a complexidade do código de superfície que, apesar de um
chip com 100 qubits poder executar o programa de verificação de erros, seria
incapaz de fazer qualquer trabalho útil, além desse, diz Robert
McDermott, que lidera um grupo
de pesquisa de computação quântica na Universidade de Wisconsin. No entanto, Martinis acredita que uma vez que ele torne seus qubits
confiáveis o suficiente para colocar 100 deles em um chip quântico universal,
estará aberto o caminho para combinar muitos mais. “Isso é algo que entendemos muito bem”,
diz ele. “É
difícil conseguir coerência, mas é fácil de escalá-la.”
Algoritmos
estúpidos
Quando Martinis explica porque sua tecnologia é necessária para a Google,
ele não poupa os sentimentos das pessoas que trabalham na AI. “Algoritmos de
aprendizagem de máquina são realmente uma espécie idiota”, diz ele,
com um toque de admiração em sua voz. “Eles precisam de muitos exemplos para aprender.”
Descobrir
como os chips de Martinis podem tornar o software da Google menos estúpido recaiu
para Neven. Ele acha que o poder prodigioso dos qubits vai reduzir o hiato
entre aprendizagem de máquina e aprendizagem biológica e refazer o campo da
inteligência artificial. “A aprendizagem da máquina será transformada em aprendizagem
quântica”, diz ele. Isso poderia significar um software que pode
aprender a partir de dados mais confusos, ou de menos dados, ou mesmo sem
instrução explícita. Por exemplo, os pesquisadores da Google têm projetado um
algoritmo que poderia permitir ao software de aprendizagem de máquina assimilar
um novo truque mesmo quando metade dos dados de exemplos é incorreta. Neven
comenta que este tipo de músculo computacional pode ser a chave para dar aos computadores
capacidades limitadas aos seres humanos.
Os
pesquisadores da Google não podem fazer muito além de especular sobre o que
exatamente poderiam ou deveriam fazer com os chips que Martinis está construindo. Vai levar tempo para construir a
infra-estrutura necessária para operar um grande número de dispositivos
exóticos para que eles possam contribuir materialmente para os negócios da
Google.
A D-Wave
Systems anunciou nesta semana que ultrapassou a marca de processamento de 1000
qubits (bits quânticos) com um novo chip que tem o dobro do tamanho do último
criado pela própria empresa. Com isso, o processador considera 21000
possibilidades simultaneamente, o que minimiza as 2512
possibilidades que estavam disponíveis com o D-Wave Two. Para efeito de
comparação, o número de possibilidades que o chip pode considerar é maior do
que o número de partículas de todo o universo visível.
Em termos
práticos, a conquista tecnológica da D-Wave
Systems permitirá que um computador quântico possa resolver problemas
computacionais mais complexos do que qualquer outro. Isso porque o qubit, que é
uma unidade de informação com propriedades quânticas, trata os dados de maneira
diferente do bit comum. Em vez de considerar as informações de forma isolada,
como fazem os computadores tradicionais, ele as integra para criar novas
dimensões para o processamento.
“Quebrar a barreira
dos 1000 qubits marca o resultado de anos de pesquisa e desenvolvimento de
nossos cientistas, engenheiros e fabricantes”, afirmou Vern Brownell, CEO da
D-Wave. “Esse é um passo essencial para trazer a
promessa da computação quântica para lidar com problemas mais desafiadores que
as organizações possam enfrentar, sejam eles técnicos, comerciais, científicos
ou de segurança nacional”.
Os novos
processadores, que compreendem mais de 128.000 junções Josephson em 6 camadas
de metal num processo de 0,25 µm, são os supercondutores de circuitos
integrados mais complexos já produzidos com sucesso. Para que funcionem, esses chips precisam
estar 40% mais refrigerados do que os outros processadores quânticos – que já
requeriam estar próximos do zero absoluto. Com esse novo processo de
fabricação, a D-Wave conseguiu também reduzir o barulho dos
componentes em 50%.
“Para a indústria de
computação de alto desempenho, a promessa da computação quântica é muito
emocionante. Ela oferece o potencial para resolver problemas importantes que
não podem ser resolvidos hoje ou tomariam uma quantidade razoável de tempo para
isso”, disse Earl Joseph,
vice-presidente da IDC ao HPC.
Baseada
em Palo Alto, na Califórnia, a D-Wave é
a maior fabricante de componentes de computação quântica do momento e presta
serviços para a NASA e Google.
Teresa
Hoenigl-Decrinis com um sistema avançado de deposição de filmes finos.
Acima da esquerda para a direita: várias demonstrações da natureza quântica de
um dos qubits.
O professor Oleg
Astafiev e sua equipe projetaram, construíram e operaram o primeiro dispositivo
de qubit supercondutor do Reino Unido.
Bits quânticos ou
qubits são os blocos básicos para um computador que trabalha de acordo com as
regras da física quântica. Capaz de executar programas e tarefas que nossos
computadores atuais não podem fazer, os computadores quânticos são o próximo
grande passo no futuro da computação.
Dispositivos supercondutores são uma das mais
avançadas tecnologias em estudo a nível mundial para implementar os
computadores quânticos. As aplicações potenciais destes materiais vão muito
além do campo da computação quântica e incluem avanços na medicina e na
exploração do espaço.
O professor Astafiev e sua equipe obtiveram avanços importantes na
qualidade de nanofabricação e desenvolveram um dispositivo de vários qubits acoplados
a uma linha de transmissão de microondas. As imagens mostram vários aspectos da
natureza quântica do dispositivo e a análise detalhada dos dados comprova a
elevada qualidade do processo de concepção e fabricação.
Segundo Astafiev,
“Vamos estudar
dispositivos mais complexos e os fenômenos mais interessantes em dispositivos
quânticos macroscópicos e fotônica de microondas quântica”.
Quando
resfriado a uma fração acima do zero absoluto, os quatro elementos escuros no
centro do circuito no meio desta imagem podem representar dados digitais usando
efeitos da mecânica quântica.
Um
novo chip supercondutor desenvolvido pela IBM
demonstra um importante passo necessário para o desenvolvimento dos
computadores quânticos. Se desenvolvido com sucesso, os computadores quânticos
poderiam efetivamente tomar atalhos através de muitos cálculos que são difíceis
para os computadores de hoje.
O
novo chip da IBM é o primeiro a
integrar os dispositivos básicos necessários para construir um computador
quântico, conhecido como qubits, em uma rede 2D. Pesquisadores acham que uma
das melhores rotas para fazer um computador quântico prático implicaria a
criação de redes de centenas ou milhares de qubits que trabalham em conjunto.
Os
circuitos do chip da IBM são feitos a
partir de metais que se tornam supercondutor quando resfriados a temperaturas
extremamente baixas. O chip da IBM contém apenas a rede mais simples possível,
quatro qubits em uma matriz dois-por-dois. Anteriormente os pesquisadores tinham
mostrado que eles só poderiam operar qubits juntos quando dispostos em uma
linha. Ao contrário de bits binários convencionais, um qubit pode inserir um ‘estado de superposição’ onde é
efetivamente 0 e 1, ao mesmo tempo. Quando qubits nesse estado trabalham
juntos, eles podem cortar através de cálculos complexos de maneiras impossíveis
para hardwares convencionais. Google, NASA, Microsoft, IBM, e o governo dos EUA
estão trabalhando na tecnologia.
Existem
maneiras diferentes de fazer qubits, os circuitos supercondutores usados pela
IBM e Google são um dos mais promissores. No entanto, todos os qubits sofrem do
fato de que os efeitos quânticos que utilizam para representar os dados são muito
susceptíveis a interferência. Muito trabalho atual está focada em mostrar que
pequenos grupos de qubits podem detectar quando erros ocorrem para que eles
possam ser contornados ou corrigidos.
No
início deste ano, pesquisadores da Universidade da Califórnia em Santa Barbara
e do Google anunciaram a construção de um chip com nove qubits supercondutores
dispostos em uma linha (clique
aqui). Alguns dos qubits do sistema podem detectar quando companheiros no
dispositivo sofrem um tipo de erro chamado bit-flip,
onde um qubit representando um 0 muda para 1 ou vice-versa.
No
entanto, qubits também sofrem de um segundo tipo de erro conhecido como flip de
fase, em que o estado de superposição de um qubit fica distorcido. Qubits só
podem detectar outros qubits se eles estão trabalhando em conjunto numa matriz
2D, diz Jay
Gambetta, líder do grupo de pesquisa de computação quântica da IBM.
Um
artigo publicado detalha como o chip
da IBM com quatro qubits dispostos em um quadrado pode detectar ambos os bits-flips e os de fase. Um par de
qubits é checado através do outro par. Um par faz a verificação dos bits-flips e outro verifica os flips de
fase. “Este é um
trampolim para demonstrar um quadrado maior”, diz Gambetta.
“Outros desafios emergem
quando o quadrado fica maior, mas parece muito otimista para as próximas etapas.”
Gambetta
diz que sua equipe teve que projetar cuidadosamente o seu novo chip para
superar problemas de interferências causados por colocar quatro qubits tão próximos.
Eles já estão fazendo experiências com um chip que tem uma grade de oito qubits
em um retângulo de dois-por-quatro. Raymond
Laflamme, diretor do Instituto para a Computação Quântica da Universidade
de Waterloo, no Canadá, descreve os resultados da IBM como “um marco importante [em direção aos]
processadores quânticos de confiança”. Combater os erros é um dos
problemas mais importantes do campo. “A computação quântica promete ter muitas aplicações alucinantes,
mas é prejudicada pela fragilidade da informação quântica”.
Resolver
esse problema exige ir um passo além dos resultados mais recentes da IBM, e corrigir os erros qubit bem como
detectá-los. Isso só pode ser demonstrado em uma grade maior de qubits, diz Laflamme.
No entanto, nem todos os pesquisadores de computação quântica pensam em qubits
como aqueles que estão sendo construídos na IBM, Google e em outros lugares.
Pesquisadores da Microsoft e Bell Labs estão trabalhando para criar um design
completamente diferente do qubit que deve ser menos propenso a erros.
a)Ocódigo de repetiçãoéumavarianteunidimensional(1D) docódigo desuperfície, eécapaz deprotegercontraerros (bit-flip). O códigoé implementado usando umpadrão alternado dedadose medição de qubits. b)Micrografiaópticado dispositivoquânticosupercondutor, que consiste emnove qubits“transmon” comcontrole e medição individual.c)O algoritmo docódigo de repetiçãoutiliza repetidas operaçõesde medidas e de emaranhamento que detectambit-flips, utilizando oesquema de paridadeno lado direito.Usando o output a partir dosqubitsmedidos durantearepetiçãodo códigoparadetecçãode erro,
oestado inicialpodeserrecuperado removendo erros físicosno software. Texto eimagem:Nature
Os computadores quânticos do futuro serão
construídos a partir de um grande número de bits quânticos (qubits), que deverão
estar em certos estados quânticos. No entanto, esses estados são extremamente
frágeis e facilmente destruídos por “erros de bits” vindos do ruído externo no
ambiente, e os físicos ainda não conseguiram criar qubits robustos o suficiente
para serem usados em uma máquina prática. Pesquisadores da Universidade da Califórnia em Santa Barbara e da Google construíram um sistema de nove qubits
em um circuito supercondutor que é robusto a esses erros e as suas experiências
mostram que a correção de erro quântico poderia agora ser realisticamente
possível em um dispositivo.
Os pesquisadores, liderados por John Martinis,
construíram um circuito quântico supercondutor que consiste em nove qubits.
Cada qubit é um pequeno circuito constituído por um condensador e um indutor
não-linear (chamado cruzamento Josephson), que atua como um átomo artificial.
Os materiais que compõem o conjunto são uma película de alumínio depositada em
um substrato de safira.
“Nosso sistema
de nove qubits pode proteger-se de erros de bits que inevitavelmente surgem do
ruído e flutuações do ambiente em que os qubits estão incorporados”,
explica o membro da equipe de Julian Kelly.
“Mostramos também que ‘mais é melhor’: nove qubits
protege o sistema melhor do que cinco qubits, um requisito fundamental quando
vai para mais qubits em um computador quântico real do futuro”.
Estados quânticos são frágeis
Os computadores quânticos vão funcionar com
base no princípio de que uma partícula quântica pode estar em uma superposição
de dois estados ao mesmo tempo – ‘spin up’ e ‘spin down’ no caso de um elétron,
por exemplo. Os dois estados representam um ‘1’ e ‘0’, de modo que N partículas
- os qubits - podem ser combinados, ou ‘emaranhados’, para representar valores
2N simultaneamente. Isso levaria ao processamento paralelo de informação em
grande escala, o que não é possível com os computadores convencionais.
Tais máquinas quânticas teriam um
desempenho muito melhor em determinadas tarefas, como a aprendizagem de máquina
ou simulação de moléculas complexas, por exemplo, porque suas velocidades de
processamento devem crescer exponencialmente com o número de qubits de informação
envolvidos. Na prática, porém, os físicos têm se esforçado para criar até mesmo
o computador quântico mais simples, porque a fragilidade desses estados
quânticos significa que eles são facilmente destruídos e são difíceis de
controlar.
Paridade de medição
“Na mecânica
quântica, não podemos medir um qubit sem destruir a superposição e
emaranhamento que faz com que a mecânica quântica funcione”, diz o
membro da equipa Rami Barends,
“mas podemos medir algo chamado paridade, que forma a
base da correção de erro quântico”.
Os pesquisadores exploraram esse fato e
repetidamente mediram a paridade entre ‘dados’ de qubits adjacentes, fazendo
uso de qubits de ‘medição’. “Cada ciclo, estes qubits
de medição interagem com seus qubits de dados circundantes, através de portas
lógicas quânticas e então podemos medi-los”, diz Kelly. “Quando ocorre um erro, a paridade muda de acordo e o qubit de
medição relata um resultado diferente. Ao acompanhar esses resultados, podemos
descobrir quando e onde ocorreu um erro de bit”.
Identificação e correção de erros
Um número maior de qubits fornece mais
informações para identificar e corrigir os erros, acrescenta Austin Fowler,
membro da equipe. “Erros podem ocorrer a qualquer
momento e em todos os tipos de qubits: qubits de dados, qubits de medição,
durante a operação da porta e até mesmo durante a medida. Descobrimos que um
dispositivo de cinco qubits é robusto para qualquer tipo de erro de bit que
ocorre em qualquer lugar durante um algoritmo, mas um dispositivo de nove qubits
é melhor porque é robusto para qualquer combinação de dois erros de bit”.
Embora ainda muito longe de aplicações no
mundo real, os pesquisadores dizem que um dispositivo de ‘auto-correção’ como o
deles poderia ser uma ótima plataforma para testar algumas das ideias por trás
da correção de erros - como proteger um estado quântico contra os famosos erros
de phase-flip. “Nós também estamos agora ocupados em melhorar a qualidade
dos nossos qubits e os materiais que usamos para fazê-los”, diz Kelly.
A
empresa D-Wave parecia um tiro no
escuro quando lançada em 1999. Um ramo da University of British Columbia (UBC),
a empresa pretendia comercializar o que na década de 1990 era um campo relativamente
controverso e teórico - a computação quântica. A computação quântica é a arte
de manipular entidades atômicas e explorar peculiaridades da física conhecida como “efeitos quânticos” para armazenar
informações de forma mais densa e obter respostasinstantaneamente de
algoritmos complexos. A computação quântica é um desafio dos dois lados. Primeiro
você precisa desenvolver um hardware capaz de explorar os tipos desejados de
manipulação quântica. Segundo, você precisa programar o hardware com um
algoritmo quântico derivado de um algoritmo clássico, como o algoritmo Page
Rank de busca do Google.
Na
década de 1990, nem o hardware nem o desenvolvimento de algoritmos quânticos
era avançado o suficiente para ser considerado comercialmente viável. Mas a D-Wave
jogou os dados e lançou uma startup na esperança de que poderia mudar isso no
lado do hardware. Trabalhando em estreita colaboração com a UBC, com a Universidade de Toronto, com o laboratório de propulsão a jato da NASA e várias outras
instituições de pesquisa americanas e canadenses, a D-Wave conseguiu atingir o
improvável – construiu um hardware de computação quântica com potencial
comercial.
Em
2007, ele executou sua primeira demonstração pública no sistema “Orion” de 16
qubits (qubit = bit quântico), que tinha uma parte especial de hardware chamado
de “processador supercondutor quântico adiabático”. O processador quântico foi
mais do que um co-processador no sentido de que ele não foi projetado para
computação de propósitos gerais, mas para rodar algoritmos quânticos
especializados carregados pelo hardware convencional.
Soluções
foram geradas a partir de um processo complexo conhecido como 'recozimento
quântico' (quantum annealing). Mais especificamente, o sistema da D-Wave opera
através do entrelaçamento quântico - uma espécie de ligação psíquica
(metaforicamente falando) entre elétrons em que espelham seus estados uns nos
outros (mais especificamente, espelham uns nos outros os spins sobre seus
respectivos núcleos atômicos). Para obter resultados quânticos confiáveis, o sistema é resfriado a uma
temperatura tão fria quanto ou mais que o espaço
sideral.
Inicialmente, a alegação da D-Wavepossuir o primeiro computador quântico funcional foi controversa. Contudo, os céticos foram
incapazes de refutar suas reivindicações. Apoiadores como a NASA publicaram evidências
dando suporte à sua possível validade.
O primeiro projeto revelado
publicamente da D-Wavefoi o processador
“Orion” de 16 qubits
Desde
o início, aplicações para a pesquisa eram evidentes. Junto com a resolução dos
enigmas de Sudoku e um problema de escalonamento, um dos três demos iniciais em
2007 envolveu a busca de moléculas conhecidas em um banco de dados. Determinados
algoritmos de busca de gráfico são problemas NP-completos; portanto, é
impossível em um sentido convencional gerar uma solução exata na maioria dos
casos.
A D-Wave iniciou a
produção comercial com o processador “Orion” de 16-qubit
O
objetivo é desenvolver a heurística para fornecer uma boa aproximação com base
nas necessidades. Um dos objetivos centrais da D-Wave foi desenvolver um hardware comercial para obter soluções
aproximadas de problemas NP-completos muito mais rápido do que é possível com
hardware convencional.
Em
maio de 2011, a D-Wave anunciou a
disponibilidade de um processador de 128 qubit apelidado de “Rainier”
(codinome: Chimera). O sistema completo tinha um preço de US$ 10 milhões de
dólares. Este sistema tem uma temperatura operacional de 13,8 milikelvin (mK).
A temperatura média que ocorre naturalmente no espaço sideral é
de aproximadamente 2,7 K -
quase 200 vezes maior do que a temperatura no interior do computador quântico.
D-Wave lançou em 2012
processadores quânticos de 128 qubits
Apesar
do custo, o sistema recebeu várias compras. Os clientes incluem Universidade de
Harvard, a Lockheed Martin Corp.
(LMT) e a Universidade de Cornell. Enquanto o sistema mostrou resultados
questionáveis em termos de aceleração, ao
menos desmistificou o ceticismo fornecendo indícios de que o complexo
equipamento funcionou como descrito.
O computador quântico
One D-Wave vendido por US$ 10 milhões de dólares
Mais
tarde naquele ano, a D-Wave apresentou
o Vesúvio (D-Wave Two) com 512-qubit.
O design do D-Wave Two foi um salto
crucial, uma vez que finalmente começou a eclipsar os computadores tradicionais
em velocidade. Em alguns casos, o D-Wave
Two foi centenas de vezes mais rápido quando comparado o melhor algoritmo
quântico com o algoritmo clássico mais apto em hardware tradicional.
Google e D-Wave:
enredados por uma causa comum
O
envolvimento da Google com a D-Wave
remonta há mais de meia década. Em 2009, uma das primeiras demonstrações de
protótipos iniciais da D-Wave
envolveu um algoritmo quântico de busca de imagem da Google. Em maio de 2013, o Google e a D-Wave aprofundaram a parceria anunciando a abertura do laboratório Google Quantum Artificial Intelligence. O laboratório foi
co-patrocinado pela NASA e pela Universities Space Research Association (USRA). Ele mostrou que em vários indicadores, o
D-Wave poderia oferecer uma
aceleração de 3 a 5 ordens de magnitude maior do que dos algoritmos e hardwares
convencionais.
Google
usou suas caixas da D-Wave
para otimizar partes do seu sistema operacional Android. Enquanto eles se recusaram
a revelar certos detalhes, o Google disse que as otimizações alcançadas com o
hardware quântico foram muito além do que era possível com o seu hardware
convencional. Uma caixa da D-Wave
poderia fazer o trabalho de otimização, em alguns casos, de todo um grande
centro de dados.
Em
maio, o laboratório ofereceu uma validação crucial da tecnologia D-Wave, usando uma técnica chamada
espectroscopia de tunelamento de qubit. Eles observaram uma forte evidência de
entrelaçamento quântico durante uma parte chave do processo. Esta validação foi
muito importante, já que algumas perguntas permaneciam se a máquina da D-Wave verdadeiramente realizava o quantum annealing. Enquanto descrições da
física quântica forneceram o melhor ajuste para métricas observadas
anteriormente, estudos indicam que os modelos clássicos demonstraram um comportamento semelhante. O novo trabalho do Google
et al., mostrou de forma inequívoca
que os mecanismos quânticos estavam trabalhando dentro das misteriosas caixas
da D-Wave.
Sangue novo!
A
parceria anunciada recentemente com a UCSB traz a bordo um dos maiores
especialistas do mundo em supercondutores, o físico John Martinis. Professor
Martinis ganhou o prêmio de Londres - um prêmio de investigação de ponta - para
aplicações de supercondutores na computação quântica. Sua especialidade está no
controle quântico - sistemas químicos que permitem manipulação de estados
quânticos - e processamento de informação quântica - projetar algoritmos
quânticos especializados (software) para analisar conjuntos de dados complexos.
O grupo do professor Martinis:
Austin Fowler, Rami Barends, Professor John Martinis e Julian Kelly
Hartmut
Neven, diretor de engenharia do Google relata:
Com um grupo
de hardware integrado, a equipe agora será capaz de implementar e testar novos
designs para otimização quântica e processadores de inferência baseados em recentes
conhecimentos teóricos, bem como em nosso aprendizado a partir da arquitetura quantum
annealing da D-Wave. Vamos continuar colaborando com os cientistas da D-Wave e
experimentar a máquina "Vesúvio" na NASA, que será atualizada para 1000
qubit do processador "Washington".
A D-Wave revelou no ano passado que a sua
concepção de qubit consiste de alças supercondutoras compostas de nióbio, com
uma camada isolante de óxido de alumínio na junção. Os loops supercondutores
são conhecidos como junções Josephson, em homenagem ao físico britânico Brian David Josephson que ganhou um prêmio Nobel de Física por descrever, em 1962, o
comportamento deste tipo de circuito.
Circuitos
supercondutores de nióbio e óxido de alumínio podem ser construídos em um substrato
de silício para projetos de eletrônica quântica. [Fonte da imagem: IEEE Spectrum]
A
fase e a carga do supercondutor utilizado são fundamentais para quanto tempo os
qubits podem ser mantidos e que níveis de emaranhamento podem ser alcançados
durante o quantum annealing. Nióbio é
o supercondutor líder usado nestas junções, que também são conhecidas como junções túnel (STJ). Não há substituto para o nióbio que é o supercondutor elementar de
mais alta temperatura crítica (9,26 K). Investigações sugerem que o tecnécio
sob alta pressão pode alcançar 11,2 K, porém mais trabalho precisa ser feito
para analisar a viabilidade da utilização de um material em uma STJ.
Nióbio elementar na
forma de liga é azul e é encontrado em depósitos cristalinos. [Fonte da
imagem: Wikimedia Commons]
Entretanto,
professor Martinis pode focar seus conhecimentos na otimização da geometria da
junção e nas técnicas de deposição para produzi-la de forma consistente e
acessível. Ele deve também trabalhar para produzir um tipo especial de geometria
na junção Josephson - uma junção em forma de cruz que ele chama de “XMON”. Em
abril, sua equipe publicou um artigo na Nature sobre ‘xmons’ de
qualidade perto de comerciais. Xmons
mostram emaranhamento superior a outras geometrias da junção, mas (como afirma
o artigo) está apenas começando a se aproximar da disponibilidade comercial.
Professor Martini
desenvolveu uma junção Josephson melhorada que tem uma geometria em forma de
cruz. Ele a chama de um qubit “XMON”. [Fonte da imagem: UCSB]
A
recompensa para o Google irá, em curto prazo, ser realizada por meio de
algoritmos de otimização de software que caçam pelas ineficiências em um código
base. Em longo prazo, o Google pode ser capaz de abaixar os preços desses
sistemas quânticos o suficiente para torná-los utilizáveis como um backend de busca
para o seu motor de imagens, proporcionando uma busca muito mais veloz e inteligente.